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Equipe da SOS Amazônia em ação contra as queimadas

Promove ações de monitoramento, combate e conscientização da atividade de fogo, em três municípios do Acre: Marechal Thaumaturgo (na Reserva Extrativista Alto Juruá, bacia do rio Juruá), Feijó e Tarauacá, ao longo da BR 364, abrangendo os rios Envira e Tarauacá.


A quantidade recomendada como necessária de proteína na dieta humana varia em torno de 0,8 g para cada quilograma de peso corporal, o equivalente a 55 g por dia para uma pessoa pesando cerca de 69 quilos. No Acre, a população de Marechal Thaumaturgo com 18867 mil habitantes, por exemplo, se fosse suprida com carne bovina como a única fonte proteica, deveria estar consumindo carne agora a uma taxa em torno de uma tonelada por dia e mais de 380 toneladas ao ano. 

Nas últimas duas décadas, a tendência estável do rebanho efetivo de até 14449,6 bovinos por ano, deste município, sugere uma emissão diária na atmosfera de mais de duas toneladas de metano (CH4), o segundo principal gás de efeito estufa contribuidor do aquecimento global, resultantes do metabolismo destes ruminantes* simbióticos.

Diante do avanço do desmatamento e das queimadas atípicas de 2019 na Amazônia, provenientes da forte relação com a pecuária, no início de outubro foram tomadas medidas emergenciais com o apoio do WWF Brasil, em ações de monitoramento, combate e conscientização da atividade de fogo, em três municípios do Acre: Marechal Thaumaturgo (na Reserva Extrativista Alto Juruá, bacia do rio Juruá), Feijó e Tarauacá, ao longo da BR 364, abrangendo os rios Envira e Tarauacá.

Três equipes foram capacitadas, em parceira com o Corpo de Bombeiros de Feijó, para atuarem como brigadistas nessas regiões. Além de treinamento para monitoramento de focos de calor a partir de dados do Banco de Dados de Queimadas (BD-Queimadas) do Sistema de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais integrados on-line com o Google Earth Pro.

As equipes estão agora realizando observações do Tipo de Cobertura e do Uso do Solo das áreas queimadas e dialogando com os comunitários sobre os principais desafios da conciliação saudável de suas atividades agrícolas de subsistência e econômicas, bem como da construção das soluções apontadas pelos próprios comunitários para reduzir o impacto do uso de fogo na saúde pública e bem-estar humano. 

Os tipos de áreas queimadas e a construção de soluções

As observações preliminares do trabalho, in situ, nos três municípios, indicam que 65% das áreas queimadas de 2019 são em Áreas Antrópicas Agrícolas, em especial, as capoeiras abandonadas (florestas secundárias) para culturas diversas e áreas de pastagem destinadas a criação de bovinos. No Rio Juruá, município de Marechal Thaumaturgo, por exemplo, um terço das queimadas observadas foram em Áreas de Floresta Nativa, que foram previamente desmatadas.

As observações preliminares do trabalho, in situ, nos três municípios, indicam que 65% das áreas queimadas de 2019 são em Áreas Antrópicas Agrícolas, em especial, as capoeiras abandonadas (florestas secundárias) para culturas diversas e áreas de pastagem destinadas a criação de bovinos. No Rio Juruá, município de Marechal Thaumaturgo, por exemplo, um terço das queimadas observadas foram em Áreas de Floresta Nativa, que foram previamente desmatadas.
Conforme exposto na discussão de Agosto de 2019 por um seringueiro e ativista ambiental vivendo há mais de três décadas no interior de uma Reserva Extrativista (Resex) da Amazônia, suas observações empíricas (e da literatura científica) reforçam-nos a considerar a forte pressão da pecuária extensiva como o decisivo vetor de mudança das formas de produção agrícola de comunitários sob o estímulo decisivo da liquidez e da rentabilidade, dois conceitos da economia marcantes neste tipo de produção, desta forma de atividade agrícola no interior do antropoceno*.   

“Quando chegamos nas áreas afetadas pelo fogo, há certo receio por parte dos produtores, mas quando explicamos nosso objetivo, que é pensar juntos na melhor solução para essas áreas, eles colaboram com o trabalho”, explica o brigadista Germano Bezerra do Nascimento, morador da comunidade Restauração, Resex Alto Juruá.

 “Ao mesmo tempo que eles precisam usar o fogo, eles não têm muito suporte técnico para fazer uma agricultura sem uso do fogo”, finaliza o extrativista da Resex, e brigadista do nosso time.

As atividades de produção mais sustentáveis como os roçados rotativos vivos e a agricultura familiar orgânica são componentes vitais da manutenção dos serviços fornecidos pela floresta em pé, possibilitando assim a valoração de ativos da sociobiodiversidade, bem como a garantia de bioprospecção para aplicações medicinais.

Por fim, a reflexão: Por que municípios, como Marechal Thaumaturgo, precisam expandir a produção pecuária face às alternativas mais saudáveis de desenvolvimento e de alto vigor econômico como as cadeias produtivas de ativos da sociobiodiversidade? 
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*Por efeito metodológico e de comunicação, consideramos aqui como comunitários, todos os produtores rurais e urbanos, comunidades tradicionais dentro e fora de Áreas Protegidas e povos indígenas com arte, cultura, religião e filosofia milenares e/ou centenários coexistindo conosco agora em pleno início do Século XXI.

*Ruminantes são um grupo biológico de mamíferos herbívoros, ou seja, aqueles animais que alimentam-se de plantas e que processam seus alimentos por meio de regurgitação, mastigação e deglutição.  

*O antropoceno é um termo recente usado na geologia para descrever a época mais recente na qual o efeito das atividades humanas são reconhecidas com base em evidências, por exemplo, de aumento de temperatura do sistema terrestre provocadas pela atividade humana. Sendo, portanto, tema de discussão atual e de consenso pela maior parte da comunidade científica global. Em outras palavras, estamos no banco do motorista dirigindo a concentração e estabilidade do ar atmosférico que respiramos e somos responsáveis pelas observações atuais de mudança climática global.

Referências
[1] Marta Lonnie et alli (2018). Protein for Life: Review of Optimal Protein Intake, Sustainable Dietary Sources and the Effect on Appetite in Ageing Adults. Nutrients. 2018 Mar; 10(3): 360. doi: 10.3390/nu10030360.

[2] IBGE - O Cidades@ (2019). Sistema agregador de informações do IBGE sobre os municípios e estados do Brasil. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ac/brasileia/panorama. Acessado em: 29 de Outubro de 2019. 

[3] Fabio Reynol | Agência Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Pesquisa avalia emissão de metano por bovinos. Disponível em: http://agencia.fapesp.br/pesquisa-avalia-emissao-de-metano-por-bovinos/20673/. Acesso em: 29 de Outubro 2019.

[4] Silvério, Divino et alli 2019. AMAZÔNIA EM CHAMAS NOTA TÉCNICA DO INSTITUTO DE PESQUISA AMBIENTAL DA AMAZÔNIA - IPAM Agosto de 2019. Disponível em: https://ipam.org.br/bibliotecas/nota-tecnica-amazonia-em-chamas/. Acesso em: 17 de Setembro 2019.
[5] IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística da República Federativa do Brasil (2013). Manuais técnicos em geociências: Manual Técnico de Uso da Terra. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 

[6] Smith, Lauren T. et alli (2014) . Drought impacts on children's respiratory health in the Brazilian Amazon.Scientific Reports (4): 3726.DOI:https://www.nature.com/articles/srep03726. 

 [7] Nature - Editorial (2011). The human epoch. Nature, (473):254. doi:10.1038/473254a
[8] Subramanian, Meera | Nature News (2019). Anthropocene now: influential panel votes to recognize Earth’s new epoch. Nature: doi: 10.1038/d41586-019-01641-5.

[9] Maria Fernanda Ziegler | Agência Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) (2018). Parceria quer impulsionar a descoberta de fármacos a partir da biodiversidade. Disponível em: http://agencia.fapesp.br/parceria-quer-impulsionar-a-descoberta-de-farmacos-a-partir-da-biodiversidade/27629/. Acesso em: 29 de Outubro 2019.

[10] Nobre, Ismael & Carlos Nobre (2019). Projeto “Amazônia 4.0”: Definindo uma Terceira Via para a Amazônia. In: Sorj, Bernardo; Soupizet, Jean-Francois; Fausto, Sergio (Org.). Futuribles em Português. Plataforma Democrática, Número 2. Fundação Fernando Henrique Cardoso | Centro Edelstein, 2019, São Paulo, SP, Brasil. Disponível em: http://www.plataformademocratica.org/Arquivos/Futuribles2/Futuribles2_ProjetoAmaz%C3%B4nia4.0.pdf. Acesso em: 29 de Outubro 2019.
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