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Oficina de resgate da fauna discute os cuidados que devemos ter com os animais silvestres no Acre

Khelven Castro

A oficina “Cuidados e procedimentos de resgate de fauna afetada pela atividade de fogo”, realizada pela SOS Amazônia em parceria com o WWF – Brasil, tem por objetivo construir mecanismos e aperfeiçoar processos relacionados com os cuidados e procedimentos de resgate da fauna, bem como sobre a redução do impacto negativo do fogo sobre a fauna silvestre.

Durante o período de 24 de junho a 17 de julho de 2020, a oficina abordou diversos temas e abriu um leque de possibilidades para aqueles que atuam diretamente com a fauna, flora, resgate e fogo.

Com a colaboração de diversas instituições (SEMA-AC, UFAC, Corpo de Bombeiros – Ac, Batalhão de Policiamento Ambiental – Ac, IBAMA – CETAS, ICMBio, Ministério Público do Estado do Acre - CAOP-MAPHU e o Instituto Federal do Acre – IFAC), será possível a criação de um roteiro metodológico para que sirva como base para o trabalho de instituições/organizações governamentais e da sociedade civil.

O processo dessa oficina se dá junto a uma construção coletiva de análises e discussões sobre temáticas que abrangem biodiversidade, desmatamento e fogo e o resgate e reintrodução de animais silvestres na natureza.

Medidas existentes

Apesar da SOS Amazônia está sendo pioneira com essa oficina ao tratar exclusivamente do resgate da fauna em situações que envolvam atividade do fogo, existem alguns projetos e iniciativas que visam a diminuição da taxa de incêndios e queimadas no estado o Acre.

Uma mobilização realizada pela rede WWF criou o Fundo Emergencial contra incêndios na Amazônia, arrecadando assim em 2019, cerca de 7 milhões de reais para ajudar no processo de criação de projetos futuros para contenção do fogo no Brasil e Bolívia.

Osvaldo Barassi Gajado, analista de conservação sênior pelo WWF Brasil, participou da oficina e comentou sobre a importância que ela tem dentro do projeto do fundo emergencial

“Fico muito feliz de poder estar participando desse momento com vocês porque o projeto ajuda muito as comunidades afetadas e questões territoriais. Um dos critérios é o monitoramento e recuperação de animais silvestres afetados e esse dentre todos os critérios era o único que não havia nenhuma intervenção, até agora” observa.

Também realizada pela SOS Amazônia, temos o projeto Brigadas Amazônia que promove ações emergências de monitoramento e combate de desmatamento e queimadas e ações de conscientização ambiental na Amazônia.

Um estudo apresentado em novembro de 2019, assinado por 11.258 cientistas, reiterando a atual emergência climática que enfrentamos, confirmou que o desmatamento e as mudanças climáticas são as fontes decisivas da perda de biodiversidade e, por consequência, dos serviços ambientais vitais fornecidos pela floresta em pé para a vida do planeta.

Leia mais sobre o projeto Brigadas Amazônia clicando aqui https://sosamazonia.org.br/brigadas-amazonia

Resgate da fauna no Acre

No Acre, existe um local específico onde animais silvestres em situação de risco são destinados. O Centro de Triagem de Animais Silvestres – CETAS, surgiu em 2008 a partir da necessidade de uma estrutura especifica, onde por muito tempo esses animais não tinham local fixo.

De acordo com a instrução normativa n° 23/2014, artigo 2, diz que: “CETAS são unidades responsáveis pelo manejo de fauna silvestre com finalidade de prestar serviço de recepção, identificação, marcação, triagem, avaliação, recuperação, reabilitação e destinação de animais silvestres provenientes de ação fiscalizatória, resgates ou entrega voluntária de particulares e que poderá realizar e subsidiar pesquisas científicas, ensino e extensão”. 

O CETAS é um ponto de referência para a recepção de animais silvestres no estado do Acre, onde os animais apreendidos, socorridos ou entregues de forma voluntária são destinados para tratamento e devolução da natureza.

Elaine Oliveira, analista ambiental e chefe do Cetas – Acre, explica também que o CETAS presta outros serviços.

 “É importante ressaltar que além disso, o Cetas também presta outros serviços, como controle de zoonoses, capacitação técnica de profissionais e o desenvolvimento de pesquisas cientificas”.

Para mais informações, basta clicar aqui https://www.gov.br/ibama/pt-br/composicao/quem-e-quem/centros/cetas#cetas-AC, o site do governo mostra a localização de todos os centros de triagens do país e o telefone para contato de cada um.

Mas afinal, quem socorre esses animais?

Os socorristas são pessoas treinadas para lidar diretamente com situações que envolvam a fauna, sejam elas em situação de fogo ou não. Cada socorrista passa por um curso preparatório com métodos e técnicas que fazem toda a diferença na hora de manejo e regaste do animal.

É importante ressaltar que sempre que você se deparar com algum animal silvestre entre em contato com algum órgão responsável, assim você resguarda a sua vida e a do animal.

O médico veterinário da prefeitura de Rio Branco, Cláudio Andrade, comenta um pouco sobre métodos e práticas no resgate. Ele é ressalta os cuidados que é preciso tomar ao lidar com bichos em fuga.

“É comum animais em fuga irem parar em vias públicas e acabam sofrendo acidentes ou maus-tratos por pessoas que os encontram considerando-os como perigosos. Assim, alguns deles acabam sendo resgatados fora de locais de atividade do fogo, o que soma mais ainda seus ferimentos. Por isso é importante não os alimentar na hora do resgate e evitar sempre molhar o corpo do bicho, para que não dificulte na hora do profissional tomar conta dos ferimentos”, afirma Andrade.

Quando falamos em animais no fogo, os problemas mais comuns diagnosticados são: ferimentos, queimaduras e fraturas. Por conta da fumaça alguns sofrem intoxicação o que acaba prejudicando o sistema respiratório.


Mantendo a segurança

Eder F. de Arruda, médico veterinário, especialista em saúde pública e doutorando em ciência animal, conta que é preciso ter cuidado no resgate desses animais, pois eles podem transmitir doenças.

 “Tendo em vista que quem trabalha diretamente com o resgate da fauna, observar o animal aparentemente rígido e sadio, faz com que não os considerem como um risco. Vê que o animal só tem apenas queimaduras e desconsidera que ele tem uma doença, isso pode levar ao socorrista a não tomar os cuidados necessários no momento de manejar e conter esse animal”, ressalta Arruda.

É importante frisar que os animais silvestres podem carregar os agentes etiológicos de diversas doenças, sem apresentar quaisquer sinais, aparentemente um animal sadio sem nenhuma indicação visível de adoecimento e de acordo com a OMS, existem mais de 200 doenças transmissíveis que se encaixam a definição de zoonoses.

Para profissionais que trabalham diretamente com os animais, é preciso vacinação, a profilaxia pré-exposição. O protocolo de imunização é elaborado por um médico veterinário, podendo fazer a prescrição da vacina. Em seguida, é preciso procurar uma unidade básica de saúde e fazer a vacinação prévia.

A manutenção do sistema vacinal é de extrema importância, deve estar atualizada para tentar evitar ao máximo a contaminação da equipe. A higienização pessoal, tanto da pessoa quanto dos seus materiais e aparelhos de resgate, é fundamental, pois o contágio das zoonoses também pode ocorrer de forma indireta.

Nesse link é possível entrar em contato com o responsável pelo departamento de controle de zoonoses da prefeitura de Rio Branco http://www.riobranco.ac.gov.br/index.php/guia-de-servicos/item/divisao-de-zoonoses.html

Ações e medidas tomadas pelos órgãos de segurança pública  

O Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) e o Corpo de Bombeiros auxiliam no resgate de animais silvestres. Kleison Albuquerque, major do BPA, conta sobre as ações realizadas dentro do território acreano. Ele afirma que a polícia militar do Acre não multa, apenas atua na esfera criminal e situação de flagrante.

Como medidas o batalhão usa da prevenção e repressão para lidar com a sociedade civil, realizando algumas palestras, em escolas de ensino fundamental, sobre educação ambiental. Na repressão, atuam como casos de flagrantes e apreensão de animais ilegais.

Em uma visão geral, é preciso entender que o Batalhão de Policialmente Ambiental resguarda a segurança dos animais, e que de forma alguma eles atuam contra a população. Animais silvestres não são alimentos, é preciso modificar esse costume social que de certa forma dificulta o trabalho de proteção à fauna.

Formas de manejo da fauna

O Dr. Armando Calouro, ecólogo e professor da Ufac, ressalta que “os animais resgatados ou apreendidos entram em processo de quarentena antes de estarem aptos para a soltura na natureza. É preciso tomar alguns cuidados, os animais devem ser avaliados e tratados. É necessário ainda checar se o animal possui condições adequadas para voltar a natureza. A adaptabilidade do animal, checar se esses animais resgatados em atividades do fogo não sofreram consequências que dificultem sua volta a natureza, como a perda de membros do corpo”.

Lidar com o resgate de animais silvestres é algo muito delicado e que exige uma atenção máxima. As mais diversas espécies de animais que vivem na Amazônia possuem suas particularidades que influenciam até mesmo no manejo adequado do animal. Desde a forma como segurá-los até que tipo de compartimento será utilizado para transportar o animal. O trabalho exercido pelos profissionais é de extrema importância para a sobrevivência da biodiversidade que é afetada pela devastação humana.

Mesmo que de forma indireta, o fogo traz efeitos sobre a fauna, seja pelos ferimentos, fumaça, fragmentação do habitat ou favorecimento de adoecimento.

Animais de pequeno porte e com uma locomoção lenta tendem a ser os mais afetados. Tatus, cobras, bicho-preguiça, são animais que, infelizmente, sofrem com incêndios.

Os pássaros com ninhos onde os filhotes ainda não possuem penas também são afetados, alguns pássaros tendem a viver em apenas um lugar, o fogo os assusta, mas logo eles acabam voltando e se deparando com a destruição. Até aquele lugar voltar a produzir o alimento daquela espécie, ela pode chegar a morrer.

Quando falamos em incêndios e queimadas gerados pelo ser humano não pensamos não quão maléfico este ato pode ser. Queimar um espaço vivo, com um ecossistema, fauna e flora apenas para gerar capitalismo é deixar de pensar no futuro que queremos. A cada ano o índice de queimada aumenta e as mudanças climáticas também, cada vez mais quente, mais seco, menos vida. Aos poucos vamos perdendo algo que levou séculos para ser construído. O fogo que consome a terra um dia também irá nos consumir.
2020-08-07 15:33 Notícia