Retrospectiva ambiental de 2021 é tema de programa de rádio
A última edição de 2021 do programa Audiência Pública, transmitido pela rádio CBN Amazônia (98,1 FM), no dia 30 de dezembro, realizou uma retrospectiva da pauta ambiental no último ano. O encontro virtual contou com a participação de Daniela Dias, geógrafa e consultora da SOS Amazônia, Eugênio Pantoja, diretor do Instituo de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), e Vera Reis Brown, diretora executiva da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e das Políticas Indígenas (Semapi).
Daniela Dias considera que 2021 foi marcado por eventos extremos, como enchentes, incêndios, secas e tempestades, e que muitos desafios enfrentados no decorrer do ano permanecem em 2022, dentre eles, a expectativa de conter o avanço do desmatamento, da grilagem de terra pública e da retira ilegal de madeira e de ouro.
“De janeiro a novembro, de acordo com dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), a Amazônia perdeu 10 mil km2, o que representa um aumento de 31% se comparado com o que foi registrado no mesmo período de 2020”, conta Daniela. Para ela, esse aumento é consequência do enfraquecimento da legislação brasileira, que favorece a impunidade de crimes ambientais. “Temos que consolidar ações de enfrentamento contra essas mudanças estratégias que, claro, só beneficiam um lado do setor político”, diz.
Como exemplo, ela cita o projeto de construção de estrada entre Cruzeiro do Sul, no Acre, e a fronteira com o Peru, cortando ao meio o Parque Nacional da Serra do Divisor. O edital aberto pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para contratação da empresa responsável pela elaboração do projeto não prevê a realização de estudos de viabilidade técnica, econômica, social e ambiental, indispensáveis a obras desse porte.
“Historicamente, a construção de estradas na Amazônia é muito prejudicial, justamente pela falta de planejamento e transparência dos projetos. E agora está em risco o Parque Nacional da Serra do Divisor, que concentra uma das maiores biodiversidades do planeta, além de povos indígenas e comunidades tradicionais”, avalia.
Retrospectiva Em 2021, ainda sob os efeitos da pandemia, a SOS Amazônia retomou as atividades de campo, em comunidades extrativistas e Unidades de Conservação, adotando os protocolos de prevenção à covid-19. Por meio de projetos como Nossabio, Aliança e Faça Florescer Floresta, a ONG promoveu a recuperação de áreas degradadas, com a implantação de sistemas agroflorestais, e a estruturação e incrementação de cadeias produtivas sustentáveis, a partir de produtos da sociobiodiversidade, como açaí, borracha e cacau silvestre.
“Com nossos projetos, buscamos fortalecer a governança e a gestão comunitária, principalmente nas Unidades de Conservação do Acre. Queremos garantir que as comunidades que vivem na floresta possam incrementar a renda familiar com alternativas sustentáveis de produção e, assim, manter a floresta em pé”, considera.
No campo político, a SOS Amazônia, em parceria com o Comitê Chico Mendes, a Comissão Pró-índio do Acre e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas, estiveram à frente da campanha #PL6024NÃO, contra a aprovação do Projeto de Lei 6.024/2019, que pretende extinguir o Parque Nacional da Serra do Divisor e reduzir os limites da Reserva Extrativista Chico Mendes.
Por fim, Daniela Dias relembrou o lançamento do protocolo “Cuidados e procedimentos de resgate fauna afetada pela atividade de fogo”, que se constitui como roteiro metodológico com orientações técnicas para o resgate de animais silvestres afetados por incêndios e queimadas. A conteúdo teórico e as ilustrações de Igor Strochit configuram um trabalho minucioso e pioneiro no Brasil, visto que se trata do primeiro roteiro de resgate de fauna com profundidade de conteúdo e ilustrações realistas com detalhes anatômicos dos animais.
“Nossas atividades são metas e desafios que nos acompanham em 2022. Nossa expectativa é fortalecer a atuação da SOS Amazônia, principalmente, no âmbito do poder público, com participação e influência nas decisões políticas”, finaliza.