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Projeto Valores da Amazônia finaliza 1ª série de oficinas sobre cooperativismo em nove empreendimentos amazônicos

O projeto Valores da Amazônia, que tem apoio financeiro do Fundo Amazônia/BNDES, foi pensado pela SOS Amazônia para disseminar e apoiar iniciativas empreendedoras no ambiente amazônico, com foco na geração de trabalho e renda, e no desenvolvimento sustentável da região.


Ao todo, oito cooperativas e uma associação de mulheres, no Acre e Amazonas, estão estabelecendo um processo de estruturação, fortalecimento e integração de cadeias de valor de produtos florestais não madeireiros, como o Cacau Silvestre, Borracha (Cernambi Virgem Prensado – CVP e Folha de Defumação Líquida – FDL) e Óleos Vegetais (Buriti, Murmuru, Cocão, Andiroba).


Além da implantação de estruturas permanentes, como usinas para beneficiamento da produção e escritórios para fortalecer a organização social, são muitas as atividades de capacitação previstas no Valores da Amazônia. Neste mês, por exemplo, finaliza-se uma série de quatro módulos de oficinas com a temática “Cooperativismo e Gestão de Negócios”.

Mediadas por consultores da Organização de Cooperativas do Brasil (OCB Acre/Amazonas) e pelos consultores em gestão socioambiental, José Fragoso Júnior e Vera Gurgel, as capacitações têm por objetivo trabalhar e melhorar a organização das cooperativas, pensando no desenvolvimento da cadeia produtiva e no aperfeiçoamento das noções de mercado e gestão.


A Cooperativa Agroextrativista Shawãdawa Pushuã, localizada às margens do Igarapé Humaitá, Aldeia Raimundo do Vale, Porto Walter, Acre, recebeu o último módulo sobre cooperativismo nos dias 7, 8, 9 e 10 de agosto. Lá, o projeto desenvolveu a atividade com atenção especial à revitalização da língua Shawã, fazendo uma ligação dos produtos apoiados com a linguagem Shawã.


“Estamos na finalização de quatro etapas de oficinas de cooperativismo sempre com um olhar em questões organizacionais, negócios e mercado, e valorização dos produtos da floresta, que é a proposta central do Valores da Amazônia. Percebemos que os sócios da Pushuã estão muito interessados em avançar no tema cooperativismo, eles conseguem mergulhar nas atividades com muito desejo de dar certo, então a melhor lição que eu poderia dizer é o bom nível de organização e participação desses sócios”, avalia Júnior.


O presidente da Pushuã, Antonio Alexandre Pereira, na língua do povo Arara, Tuku Udir Shawã, destacou a importância de mobilizar os sócios para planejar os rumos da cooperativa. “Com essa oficina de cooperativismo, a gente aprende a cooperar em todos os aspectos do trabalho, por exemplo, ajuda a compreender as atividades que a gente vem desenvolvendo, a compreender como é que funciona uma instituição, como envolver toda a comunidade para discutir e planejar o que queremos para o nosso povo”, disse.


Tuku Udir falou também sobre o significado de um trabalho transparente e de qualidade. “O projeto vai construir estruturas permanentes na nossa comunidade, como unidades de produção de borracha FDL, e ainda vamos ganhar uma sede para a Pushuã. Depois que o projeto passar nós vamos estar com as estruturas para produção e mais na frente vamos dar um retorno dos benefícios que a gente recebeu. E vamos ter muito cuidado com o patrimônio, saber usar tudo com sabedoria, para que nossos filhos e netos no futuro vejam o resultado de um trabalho transparente e de qualidade”, comentou.


Kumaua Shawã - Sócia da Cooperativa Agroextrativista Shawãdawa Pushuã

Maria de Jesus (Kumaua Shawã), ressaltou as lições que as oficinas ensinaram. “Teve uma atividade de construção de uma ponte que o nosso grupo fez de qualquer jeito, sem pensar. Com isso eu aprendi que a gente deveria articular primeiro para dar certo, planejar para as coisas ficarem cada vez melhor na nossa comunidade”, disse.


Kumaua alertou sobre de que forma podemos cuidar das nossas florestas. “A gente pode usar a floresta no manejo. A floresta é a nossa mãe, por isso temos que cuidar dela com muito carinho e amor. Os brancos que moram ali do outro lado fazem muita ‘desmatação’ porque criam muito gado. São pessoas que não tem articulação de ninguém, agora participando das oficinas, eles vão aprender muito mais com a gente porque não queremos destruir a floresta”, disse Kumuaua.

Até o momento, de acordo com o coordenador geral do projeto Valores da Amazônia, Álisson Maranho, foram capacitadas, aproximadamente, 220 pessoas, entre mulheres, jovens, extrativistas e indígenas. A proposta é capacitar mais 450 pessoas até o final do projeto, no que se refere ao tema cooperativismo.


“Esses quatro módulos foram muito importantes para conhecer, de forma mais aprofundada, as dificuldades de gestão desses empreendimentos amazônicos. Com essas informações, vamos trabalhar em conjunto para que possamos melhorar a organização de cada um desses empreendimentos e o desenvolvimento das cadeias produtivas apoiadas. Ou seja, essas capacitações nos permitem agora a planejar melhor como superar essas dificuldades apresentadas”, disse Álisson.


Revitalizando a língua Shawã

Jogo da Ruduã desenhada pelos indígenas com o objetivo de iniciar a revitalização do idioma Shawã

Embora não estejam previstos no projeto, há outros desafios a conquistar durante a implementação do Valores da Amazônia. A revitalização da língua Shawã, por exemplo, é um deles.


O povo Arara tem receio de que daqui cinco anos seu idioma Shawã não seja mais conhecido pela nova geração. De fato, atualmente, poucos índios da Aldeia Raimundo do Vale têm conhecimento sobre a língua. Por essa razão, foi desenvolvido, coletivamente, envolvendo os sócios, crianças e estudantes, o jogo cultural da Jiboia, chamado na língua Shawã de Ruduã.


Como funciona essa dinâmica

Perguntas sobre a floresta e os seus valores, igarapés, rios, animais, cultura, cooperativismo e sobre o dia a dia na comunidade são feitas na língua portuguesa para serem respondidas no idioma Shawã ou vice-versa. O dado é lançado na Ruduã para indicar a pergunta e quantas casas o participante terá que avançar ou recuar. O jogo permite interação, envolvimento, troca de conhecimento, histórias do antepassado e valorização dos recursos naturais. Ao todo, são 94 perguntas, com a participação de até 10 integrantes, que vão avançando etapas até alcançar a cabeça da Ruduã.


“Fazer negócios, especialmente com um povo indígena, não se pode deixar de lado os valores sociais, culturais e ambientais. Aos poucos estamos conseguindo compreender que linguagem é essa que devemos utilizar. Ou seja, está se construindo com o povo Arara essa importante relação de confiança com o projeto Valores da Amazônia”, observa o mediador da oficina Fragoso Júnior.


O Valores da Amazônia é financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES e tem como objetivos disseminar e apoiar iniciativas empreendedoras em nove instituições aglutinadas, com vistas à geração de trabalho e renda, por meio do desenvolvimento sustentável das cadeias de valor dos óleos vegetais, cacau silvestre e borracha, em seis municípios do Estado do Acre: Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Porto Walter, Tarauacá e Feijó; e quatro municípios do Estado do Amazonas: Boca do Acre, Pauini, Lábrea e Silves. Saiba mais
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