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Corte da seringa na Aldeia Raimundo do Vale

Transformar a vida das pessoas que vivem na floresta, levando alternativas de trabalho e renda, com foco na manutenção da floresta tem sido um desafio constante para o projeto Valores da Amazônia, realizado pela SOS Amazônia, com apoio financeiro do Fundo Amazônia.

Uma das metas do projeto é resgatar o extrativismo da borracha nativa e iniciar o trabalho com óleos vegetais na Aldeia Raimundo do Vale, em Porto Walter (Acre) por meio da Cooperativa Agroextrativista Shawãdawa Pushuã.

No dia 27 de abril, equipe da SOS Amazônia subiu o Igarapé Humaitá rumo a Aldeia, com a missão de realizar, durante três dias, uma oficina de Produção de Folha de Defumação Líquida (FDL*).

Cerca de 15 indígenas participaram da capacitação, que teve como objetivo ensinar a nova forma de produzir borracha e inspirar adeptos à prática.

Conduzida pelo coordenador do Conselho Nacional dos Seringueiros, no Acre, José Rodrigues de Araújo, a oficina mostrou todo o passo a passo da produção de FDL (coagem e diluição inicial; adição de preservante; preparo das bandejas, coagulação; retirando o coágulo; calandragem; secagem; enfardamento, armazenamento, embalagem e transporte), além de informações sobre preço e processo de comercialização da borracha.

“Seja para o indígena, extrativista ou para o assentado, a ideia é que a gente leve esse conhecimento de valorização da cadeia da borracha nativa a todos os municípios do Acre. E isso torna-se possível por meio de projetos como o Valores da Amazônia, um projeto que tem ido aos lugares mais distantes, onde nunca chegou esta política e é um incentivo de uso da floresta de forma correta, trazendo resultados positivos e financeiros que ajuda na organização social, que contribui para a preservação do ambiente e melhoria da qualidade de vida das famílias”, destaca De Araújo.

Alisson Maranho, coordenador geral do Valores da Amazônia, informa que a Pushuã vai receber nove Unidades de Produção e Secagem de Borracha FDL. Destas, até o momento foram instaladas duas unidades, com quatro seringueiros voltando a cortar seringa depois de 25 anos, quando pararam por causa da crise da borracha.

É o caso do indígena e agente Agroflorestal, José Maria Sabino da Costa (nome indígena Pêvu Shawãdawa), que se emocionou com a oportunidade de voltar às estradas de seringa. “Muitas vezes eu dormia pensando naquele trabalho que já tinha feito há 25 anos e sentia saudade porque eu achava bom. Muitas vezes eu sonhava cortando a seringa, e agora esse projeto chegou até nós aqui para eu continuar a cortar seringa que era o que eu mais pretendia na minha vida: realizar o sonho que eu mais sonhava”, conta, emocionado, Pêvu.

Seu Edimar Pereira (Wurúba) também lembra com nostalgia dos tempos dos seringais e comemora seu retorno à atividade. “É um sentimento muito bom voltar a cortar seringa, espero que mais pessoas trabalhem com a seringa para fortalecer a nossa Aldeia”, disse.

MERCADO
A demanda pela borracha FDL está acima do que é produzido hoje no Acre. A fabricante de tênis Vert e a Mercur, que desenvolve produtos com borracha natural para os segmentos de educação, saúde e revestimentos, por exemplo, precisam de uma demanda de 42 toneladas de FDL, e até o momento, o Estado consegue atender apenas 26 toneladas. "Considerando esses dados, temos um deficit de produção de 16 toneladas só para atender essas duas empresas. O preço de mercado com a subvenção federal e subsídio estadual chega a 12 reais por quilo. Ou seja, o cenário está propício para a borracha e a proposta do projeto é envolver novas famílias a essa cadeia de valor", destaca Adair Duarte, coordenador técnico do Valores.

KIT UNIDADE DE PRODUÇÃO
Cada Kit para as Unidades de Produção contém: uma calandra, 50 bandejas, uma bandeja de 20L, um balde 20L, um funil inox, uma jarra plástica medidora, uma proveta de medição, uma caixa d'água 500L e uma espátula.

KIT EXTRAÇÃO
Cada seringueiro ganha um kit contendo: 300 tigelas 600ml, 300 bicas galvanizadas, um cabo para faca de seringa, duas facas de seringa, um saco de napa, uma estopa de costas e um balde de zinco para a coleta do látex.

 Inovação tecnológica de produção da borracha beneficiada, desenvolvida pelo LATEQ da UnB, que permite maior agregação de valor ainda dentro da floresta. 
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