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SOS Amazônia lança protocolo para resgate de fauna silvestre afetada pelo fogo

SOS Amazônia e WWF-Brasil realizaram nesta quinta-feira, 9 de dezembro, o lançamento do protocolo “Cuidados e procedimentos de resgate fauna afetada pela atividade de fogo”, com transmissão ao vivo pelo Youtube e Facebook. Após dois anos de minucioso trabalho de pesquisa, conteúdo foi apresento à sociedade e ao público alvo como referência na consolidação de um roteiro metodológico com orientações técnicas para o resgate de animais silvestres afetados por incêndios e queimadas.

Além dos impactos ambientais e dos danos causados à saúde da população, a atividade do fogo afeta diretamente a fauna, colocando em risco a vida de aves, anfíbios, répteis, mamíferos e tantos outros animais silvestres. Aqueles que não morrem queimados, sobrevivem com sequelas devido à intoxicação. “Corremos o risco de perder várias espécies da nossa biodiversidade antes mesmo de conhecê-las”, alerta Wendeson Castro, coordenador do projeto Brigadas Amazônia, que esteve à frente do processo de construção do roteiro metodológico.

O estudo foi capitaneado pela SOS Amazônia, por meio do projeto Brigadas Amazônia, em parceria com WWF-Brasil e o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Rio Branco. Contou com a colaboração de pesquisadores e profissionais da área ambiental, como professores da Universidade Federal do Acre e do Instituto Federal do Acre, servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), militares do Corpo de Bombeiros do Acre e representantes da Secretaria de Meio Ambiente do Acre.

“Quem mais ganha com esse trabalho é a fauna brasileira, desde o pequeno sapinho até os grandes animais, como onças e antas”, ressalta Elaine Oliveira, coordenadora do Cetas Rio Branco. Para a analista do Ibama, o fogo ameaça não apenas a biodiversidade como também os ecossistemas. “Para além da sua beleza, os animais possuem função ecológica de extrema importância. Eles fazem parte do ciclo de vida e do equilibro dos ecossistemas, seja com a dispersão de sementes, a polinização ou mesmo com a predação de outros animais. Proteger a fauna é dar um retorno à sociedade em termos de ambiente equilibrado”, diz a analista.

Segurança
O biólogo e integrante do projeto Brigadas Amazônia, Luiz Borges, explica que, devido ao risco, o protocolo é destinado exclusivamente aos profissionais que atuam diretamente no combate do fogo, como brigadistas e militares do Corpo de Bombeiros. Para Borges, além da metodologia científica, com orientações técnicas e dicas de segurança, as ilustrações são o grande destaque no protocolo. “Esse é um trabalho pioneiro no Brasil por ser o primeiro roteiro de resgate de fauna com profundidade de conteúdo e ilustrações realistas que retratam as questões anatômicas dos animais”, diz.

Durante o lançamento do protocolo, Borges reforçou o cuidado que se deve ter ao manejar os animais e a importância do uso de equipamento de proteção individual (EPI). “Vale lembrar que a pandemia de Covid-19 é resultado de uma zoonose, ou seja, uma doença transmitida pelos animais aos seres humanos. Por isso é importante o uso de EPI, cobertura vacinal e capacitação. Se o profissional não estiver capacitado, ele pode agravar a situação do animal”, conta Borges.

Para Luiz Borges, além da metodologia científica, as ilustrações são o grande destaque do protocolo (Foto: SOS Amazônia)

Dinâmica do fogo
Resgatar os animais do cenário do fogo requer o domínio de técnicas e procedimentos que possam garantir a assertividade da operação e a segurança da fauna e do brigadista, ao lidar, por exemplo, com animais peçonhentos. A preocupação seguinte é proporcionar ao animal um tratamento adequado, através da triagem e acompanhamento do Cetas, para depois ser devolvido à natureza. Wendeson Castro calcula que o número de animais resgatados pode ser três vezes maior do que apontam os dados oficiais.

“Muitos animais resgatados são devolvidos à natureza sem receber o tratamento específico. Podemos tirar um animal da situação de risco e encaminhá-lo de volta à natureza, mas as chances de ele sobreviver são muito baixas. Esse é um desafio crítico a ser superado, não apenas no Acre como em todo o país”, considera Castro.

A fim de compreender a dinâmica do fogo no Acre, equipes do projeto Brigadas Amazônia foram a campo conversar com produtores rurais, inclusive dentro de Unidades de Conservação, e constaram que o uso do fogo é uma prática convencional na agricultura familiar para limpeza dos terrenos e renovação dos plantios. De acordo com Wendeson Castro, o desmatamento na Amazônia caiu entre os anos de 2004 e 2012, ao passo que o desmatamento em pequenas propriedades rurais aumentou de cinco a dez hectares.

“De forma geral, observamos que dois hectares são desmatados anualmente na escala local comunitária para cultivo agrícola e manejo de pastagem com uso do fogo. Um dado importante é que 50% das queimadas afetam a floresta primária e a diversidade de fauna que habita essa mata virgem”, esclarece Castro.

Projeto Brigadas Amazônia
O projeto Brigadas Amazônia, desenvolvido pela SOS Amazônia com suporte do Fundo Emergencial do WWF-Brasil, promove ações emergenciais de monitoramento e combate de desmatamento e queimadas, bem como ações de conscientização ambiental na Amazônia. Atualmente, a equipe trabalha na finalização de uma cartilha sobre resgate de fauna.

Em 2019, o Brigadas Amazônia atuou no combate, monitoramento e conscientização da atividade de fogo em 354 áreas na Bacia do Juruá, incluindo a Resex Alto Juruá, a Resex Riozinho da Liberdade, a Floresta Estadual do Mogno e a Floresta Estadual do Rio Gregório, abrangendo os rios Juruá, Envira e Tarauacá.

A equipe dialogou com os comunitários sobre os principais desafios da conciliação saudável de suas atividades agrícolas de subsistência e econômicas, incluindo as soluções apontadas pelos próprios comunitários para reduzir o impacto do fogo na saúde pública e no bem-estar humano.
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