Blog SOS Amazônia

A questão ambiental e o racismo na nossa sociedade

No círculo técnico que trata da temática ambiental, tudo o que pensado, estudado, planejado, pesquisado e desenvolvido tem como objetivo final, além de conhecer e proteger a natureza e o meio ambiente, a vida humana, a manutenção do equilíbrio ecológico e ambiental para os seres humanos e suas sociedades viverem bem. 

As interpretações contrárias, que muitos fazem do trabalho dos profissionais da área, tem muito a ver com o rigor e excelência que organismos da área  estabelecem e acabam se concretizando em normas e leis para o nosso dia a dia. O grupo que mais reclama com isso são os do setor econômico, empresários da indústria, comércio e agropecuária. 
O entendimento deles é que isso onera os custos de produção em troca de uma proteção do ambiente que não traz benefício maior que o econômico proporciona. 

No nosso entendimento, descartando os excessos, que são exceções, é puro egoísmo, ambição sem limites, ignorância, ou na melhor das hipóteses, falta de conhecimento, ausência de uma gestão do negócio baseado em princípios modernos e mais avançados da administração e do desenvolvimento. 

Considerando a história recente, dos últimos 100 anos, Essa linha de raciocínio que contamina o poder político e econômico, contrário a proteção da natureza, tem raízes  nas heranças do grupo de humanos tradicionalistas que baseiam a vida do ser humano num mundo que não respeita a diversidade, não aceita que pessoas pensem diferente, que tenham deuses diferentes,  tenham prazeres e práticas diferentes, ou tão pior quanto, não respeitam quem tem a cor diferente, acreditando na ideia de que brancos e não-brancos são seres distintos. 

E considerando a parcial dominância que esse grupo impõe no planeta hoje, é compreensível e é grandemente esperançoso a mobilização que os norte americanos e povos de vários países estão realizando em memória de JOHN FLOYD, assassinado por um policial na cidade de Mineápolis no estado Minnesota, nos Estados Unidos .

Faço essa conexão da temática ambiental com o racismo hoje incrustado em nossa sociedade, e no caso do brasileiro é  algo velado e escancarado, de crueldade e violência, que entorpece e nos torna cúmplices, já que é pouco o que fazemos e propomos para viabilizar igualdade da presença de negros e povos indígenas nos diferentes espaços e instituições da nossa sociedade. Seja para garantir e proteger suas terras, hábitos, tradições e visões de desenvolvimento e sociedade.

Como é o caso de Miguel, uma criança negra de apenas cinco anos de idade, filho de uma empregada doméstica que trabalhava para a primeira dama de Tamandaré, branca. Por não ter com quem deixar o filho, já que as creches de Recife haviam suspendido as aulas devido a pandemia do Covid_19, Mirtes, a empregada, teve que levar seu filho junto ao trabalho onde o deixou só por alguns instantes aos cuidados da primeira dama, para poder passear com o cachorro.  A total falta de sensibilidade da patroa, Sari Côrte Real,  faz com que mais uma vida seja perdida. A criança cai do 9º andar no prédio em que Mirtes trabalhava.

A morte de Miguel é um de muitos resumos sobre como são as questões raciais no nosso país, onde vemos que algumas vidas são mais importantes que outras. O preconceito estrutural que ronda nossa sociedade agora está sendo exposto para que as pessoas possam entender que, infelizmente, ainda não vivemos em uma democracia racial. 

Muitos momentos ocorreram em vários países, como reação a crimes e injustiças praticadas por homens brancos sobre negros e indígenas. Porém, este momento é único na humanidade, pois nunca essa atrocidade foi exibida da maneira que está sendo feita, com a imprensa nacional e internacional, e as várias mídias transmitindo ao vivo tudo que acontece. 

Esse momento da nossa sociedade deve ser refletido por cada um de nós, sobre o que estamos fazendo, e agora com esse ingrediente humano e social. Entendemos que, havendo predominância política e de poder, de  pessoas como o policial que assassinou o John Floyd,  proteger e conservar a natureza e o nosso meio ambiente será uma eterna guerra, e a cada batalha que perdemos, uma parte da natureza deixa de existir, colocando nossas vidas e futuro em risco.

Vamos embarcar na  insurgência dos jovens e colaborar para que a destruição ambiental seja paralisada, a desigualdade entre os seres humanas seja menor, e a diversidade social e ambiental seja conservada.     

Miguel Scarcello 
Opinião