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Série – Iniciativas para a redução do desmatamento e uso do fogo na Resex Alto Juruá

#resultadosresexaltojuruá

Nessa primeira série, vamos destacar os resultados de três iniciativas do ATES Resex Alto Juruá para a redução do desmatamento e uso fogo: comercialização do óleo da copaíba; recomposição de nascentes, implantação de quintais e sistemas agroflorestais; e roçados sustentáveis.


Copaíba em pé tem mais valor

Há uma questão que incomoda a SOS Amazônia: por que a copaíba (Copaifera langsdorfii), conhecida como o antibiótico da mata para tratar inflamações, com bom valor econômico do seu óleo, é derrubada para ser vendida como madeira?


Como para a SOS Amazônia copaíba em pé tem mais valor, o projeto de ATES/Incra, em parceria com o ICMBio/IFT/USAID, promoveu a extração do óleo dessa espécie em várias comunidades da Resex. Com orientações da equipe técnica sobre o adequado manejo, foi extraído 680 quilos de óleo de copaíba, gerando uma renda de 21 mil reais a ser repassado para, aproximadamente, 30 famílias.


Adair Duarte, coordenador de projetos da SOS Amazônia, explica que conseguir acessar mercados diferenciados para a venda de produtos extrativistas é uma parte que exige tempo e muita dedicação, pois é preciso e é muito importante atender todos os requisitos exigidos, como seguir as boas práticas de extração, para não prejudicar a árvore, e de armazenamento, para não contaminar o óleo.


No entanto, esse processo foi percorrido pela SOS Amazônia e o óleo de copaíba da Resex foi avaliado pela Fundação de Tecnologia do Estado do Acre – Funtac e pela Firmenich & Cia. Ltda/Cotia-SP como um produto de boa qualidade e com mercado garantido. A primeira remessa foi vendida para AGROCON Ltda em Manaus, que pagou 35 reais o quilo.


Decerto, há muita estrada a percorrer para viabilizar o extrativismo na Resex, mas iniciativas estão sendo tomadas nessa direção, afinal as Resexs foram criadas para esse fim.


Transporte do óleo de copaíba da Resex Alto Juruá para comercialização | Foto: Jarison Farias

“A extração da copaíba possibilitou uma renda a mais para nossa comunidade e a SOS Amazônia nos ajuda muito no sentido de melhorar nossa produção para poder entrar no mercado. O próximo passo é começar a utilizar o roçado sustentável ainda esse ano porque a gente viu que em outras comunidades o método deu certo. Tudo isso é um passo a mais para preservar a Copaíba e saber usá-la de maneira correta”, disse o ribeirinho José de Anchieta Andrade, da comunidade Maranguape.


Recomposição de nascentes, implantação de quintais e sistemas agroflorestais

A SOS Amazônia concentra esforços para realizar um serviço de ATES diferenciado, sempre de olho na conservação dos recursos naturais. E não poderia ser diferente. Até o momento, o projeto incentivou, a partir de curso e orientações técnicas, a produção de 48 mil mudas espécies frutíferas e florestais que estão sendo utilizadas para recomposição de 180 nascentes e a implantação de 130 hectares de quintais e Sistemas Agroflorestais (SAFs), com a participação direta de 400 famílias.


“Com a ajuda dos técnicos estou implantando um SAF na minha área e também produzindo mudas para reflorestar, principalmente, as margens dos igarapés e rios, pois são fontes de água. Sem fazer isso, possivelmente vamos ter sérios problemas no futuro, a escassez da água e, consequentemente, a escassez da produção e da nossa alimentação”, observa Germano Bezerra do Nascimento, da comunidade Restauração, distante 8 horas da zona urbana de Marechal Thaumaturgo, subindo os rios Juruá e Tejo em barco de média potência.


528 famílias adotaram a técnica dos roçados sustentáveis, reduzindo o desmatamento e o uso do fogo na Resex

Com a aceleração do aquecimento global e o crescimento populacional, cada vez mais, é preciso à adoção de iniciativas voltadas para a conservação dos recursos naturais.


Uma das muitas alternativas adotadas para promover o desenvolvimento sustentável, é apoiar a agricultura familiar, com atenção especial para a redução do desmatamento, e produção sem uso do fogo e sem agrotóxicos.


Para isso, os técnicos da SOS Amazônia orientam a substituição dos roçados que utiliza o método de broca, derruba e queima no preparo da área - por sinal um método oneroso e que coloca em risco a vida da pessoa que opera o motosserra), pela técnica dos Roçados Sustentáveis, que consiste no cultivo de leguminosas (mucuna-preta / Stizolobium aterrimum  e puerária /phaseoloides), detentoras de grande potencial na recuperação dos solos improdutivos, deixando de lado processos de cultivo que degradam o ambiente, além de diminuir consideravelmente a mão de obra.


Abandonar o método rudimentar de produção agrícola, ainda tem resistência, muitos agricultores não acreditam na nova técnica sugerida e preferem fazer o habitual, repassado por seus antecessores.


No entanto, bons resultados têm servido de exemplos e os Roçados Sustentáveis vêm ganhando muitos adeptos na Resex. Ao todo, 528 famílias adotaram a prática, com a recuperação de 285 hectares de áreas alteradas e incorporadas ao sistema produtivo da UPF. Isso significa uma redução de desmatamento e queimadas de 285 hectares na Resex.


Germano é um dos jovens produtores adeptos da prática dos roçados sustentáveis, SAFs e recuperação de nascentes | Foto: Eliz Tessinari

“Estamos iniciando uma área com plantio de mucuna para depois plantar milho, batata doce e outros alimentos. Percebi que o plantio de mucuna possibilita muitas vantagens, principalmente em relação a preservação do meio ambiente, porque deixamos de desmatar e de usar o fogo, além de não termos um custo alto com a gasolina, motosserra, o custo com derrubador, entre outros. Essa qualidade muito se deve ao incentivo por parte dos técnicos para que usamos esses métodos mais sustentáveis, com a consciência de que tocar fogo é ruim para nossa produção e para a nossa saúde. Espero que essa parceria continue dando certo, que não falte incentivo e acompanhamento por parte da SOS Amazônia”, destaca o jovem.


Ribeirinha Antônia Eliete Nascimento Araújo, da Comunidade Alegria | Foto: Bismarque Pinheiro

Dona Antônia Eliete, da Comunidade Alegria, às margens do rio Tejo, afirma que já trabalhava com a mucuna antes e faz defesa da técnica em favor da floresta. Ela cultiva várias espécies frutíferas e florestais, como banana, cupuaçu, abacate, coco, jambo, limão, acerola, manga, araçá, cacau, café, açaí, mogno, entre outras.


“Para mim, estamos plantando não somente mucuna, mas vida, porque a gente e as pessoas da cidade precisam da floresta, e se não preservar a floresta todos nós vamos ser abalados. Estamos fazendo nossa parte, eu já usava mucuna na minha área, mas com a chegada dos técnicos melhorou a forma de trabalhar no roçado. Não podemos esquecer que as árvores também têm vida, onde tem floresta é mais difícil acontecer os deslizamentos como aconteceu com aquela barragem”, disse dona Eliete.


Ela também comentou a grande importância de plantar palmeiras para aumentar a quantidade de água da região. “Outra coisa importante são os plantios das palheiras, pois elas vão em busca d'água. No lugar onde plantamos, com o tempo vira vertente. Além de tudo isso, as queimadas são ruins porque mata e espanta os animais, outra coisa é o rio, com o desmatamento ele pega mais sol e sofre mais calor, antigamente andava até Baleeira no verão, hoje é difícil andar de Canoa. E tenho certeza que é por conta da derrubada de florestas nas suas margens”, ressalta a ribeirinha.


Os técnicos da SOS Amazônia, Bismarque Pinheiro e Leonildo Ribeiro, avaliam a atividade na Resex. “A técnica dos roçados sustentáveis foi bem aceita na Resex pelos produtores. Na Comunidade Restauração, por exemplo, foram plantados mais de 300 quilos de mucuna por, aproximadamente, 15 famílias, com o objetivo de fazer banco de sementes e cultivar melancia a partir do final de abril. É um método inédito para todos eles, com certeza existiu muito receio por parte de alguns porque ouviram falar que a mucuna poderia gerar muitos problemas, mas como estamos sempre na Reserva explicando sobre o manejo da mucuna, esse receio deu lugar a aceitação. A ideia agora é que eles garantam a sustentabilidade da prática formando os bancos de sementes”, disse Bismarque.


Leonildo reitera: “Com o passar do tempo, novas alternativas vão surgindo para melhorar a vida das pessoas que moram na floresta. E pela minha experiência em campo, percebo o quanto os roçados sustentáveis são importantes para a melhoria da produção familiar, a qualidade de vida das pessoas, pois é um trabalho bem mais leve e evita doenças respiratórias causadas pela absorção de fumaça, além da redução de impactos ambientais. Ou seja, é vantajoso em vários aspectos, ecológicos, sociais e econômicos”.


Convidamos você a conhecer a força e a criatividade das mulheres da Resex Alto Juruá, por meio da série Participação das mulheres nas atividades produtivas.


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