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32 anos da SOS Amazônia - uma história de (Re)existência -

São 32 anos de esforço contínuo, construindo e carregando um legado de luta pela preservação da Floresta Amazônica

Por Eliz Tessinari e Khelven Castro

Publicado em 30/09/2020
Décadas atrás, o Acre enfrentava uma situação muito parecida com a atual; ondas de desmatamento e queimadas tornavam-se cotidianas, substituindo a floresta por áreas de pastagens. Os seringueiros, que na Amazônia construíam suas vidas, passaram a fortalecer movimentos, fazendo os empates contra a devastação da Floresta Amazônica e pelo direito à terra.

A luta dos seringueiros motivou professores, estudantes e representantes do movimento social, incluindo o Chico Mendes, a criação da SOS Amazônia em 30 de setembro de 1988, no Acre.

Na época, a organização dedicou-se a expor, em praça pública, dados e fotos sobre o desmatamento, denúncias das ameaças sofridas pelos seringueiros e distribuição de materiais informativos, com o foco de mobilizar a sociedade e facilitar a compreensão sobre as causas e consequências da destruição da floresta.

São 32 anos de esforço contínuo, construindo e carregando um legado de luta pela preservação da Floresta Amazônica, seguindo os ideais de Chico, que é o de manter a floresta conservada, gerando renda para as populações tradicionais.

Atuação

O momento delicado que os extrativistas estavam vivendo com a perda de seus territórios levou a SOS Amazônia a desenvolver projetos, propor e implementar políticas públicas com foco na difusão de modelos e práticas para preservação da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável.

De lá para cá, mais de 100 projetos foram implementados pela instituição, conectando uma rede de parceiros fundamental para ajudar a cumprir a missão de “Promover a conservação da biodiversidade e o crescimento da consciência ambiental na Amazônia”.

Hoje, a SOS Amazônia atua no estado do Acre, Rondônia e sudoeste do Amazonas, com a participação de, aproximadamente, cinco mil famílias. Essa área de atuação engloba, principalmente, Unidades de Conservação (UC), a exemplo do Parque Nacional da Serra do Divisor e da Reserva Extrativista Alto Juruá, atribuindo à SOS Amazônia um extenso e importante histórico de iniciativas para manutenção das florestas e melhores condições de vida aos povos que nelas habitam.
Investimentos nos produtos da sociobio - geração de trabalho e renda para as comunidades locais mantendo a Floresta em Pé. [Foto: SOS Amazônia | Andre Dib]
O QUE FAZEMOS
As iniciativas são pautadas em três programas estratégicos, envolvendo a participação de jovens e mulheres. Negócios Florestais Sustentáveis; Mudanças Climáticas e Restauração da Paisagem Florestal; e Política, Governança e Proteção da Paisagem Verde.

Projetos atuais

1. Nossa Bio – Territórios conservados
O projeto Nossa Bio - Territórios Conservados está alinhado às estratégias da SOS Amazônia nos últimos anos de ‘Promoção de Negócios Florestais Sustentáveis’ e de ‘Política, Governança e Proteção da Paisagem Verde’ na Amazônia.

Tem por objetivo promover a consolidação de Unidades de Conservação no Acre e Rondônia, com focos no fortalecimento da governança de cada unidade e incremento da produção sustentável.

A iniciativa fortalecerá a governança e incrementará atividades econômicas nessas UCs em quatro linhas de ação: planos de manejo; mecanismos de governança; uso sustentável dos recursos naturais; e sistemas de monitoramento e proteção.

O Nossa Bio faz parte do Lira - Legado Integrado da Região Amazônica, do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, com o apoio financeiro do Fundo Amazônia e Fundação Gordon e Betty Moore.

2. Harpia - Observatório de Políticas Socioambientais do Acre
Com a mudança dos governos estadual e federal em 2019, a gestão ambiental do Acre nos 16 primeiros meses suspendeu temporariamente projetos de políticas de conservação e pagamento de serviços ambientais; ações de fiscalização a desmatamento e queimadas foram reduzidas; o Conselho de Meio Ambiente foi acionado apenas para pautas que poderiam suspender repasse de recursos; sociedade civil, populações tradicionais e povos indígenas deixaram de ser envolvidas e ouvidas nos diferentes temas de seus interesses.

Passou a haver intensa propaganda do agronegócio, indiretamente induzindo pequenos e médios produtores a desmatar.

Recentemente, algumas políticas ambientais de governos anteriores foram parcialmente retomadas, porém, há desestabilização da produção agroflorestal, a pecuária avança nas UCs e entorno imediato, uma onda de grileiros vindos de Rondônia avança em UCs e Reservas Legais, além de Projetos de Lei para flexibilizar a proteção de áreas como o Parque Nacional da Serra do Divisor.

Diante desse cenário, foi criado o Harpia – Observatório de Políticas Socioambientais do Acre, com o objetivo fortalecer o programa institucional de ‘Política, Governança e Proteção da Paisagem Verde na Amazônia’, definindo processos para priorizar políticas a serem monitoradas e receber foco, e melhorando suas estratégias para o monitoramento da política ambiental no estado do Acre.

Apoio financeiro: Instituto Floresta e Clima (ICS)

3. Conservando Floresta - Produzindo Borracha
O projeto “Conservando floresta, produzindo borracha” tem por objetivo Fortalecer a cadeia de valor da Borracha Cernambi Virgem Prensado (CVP) no Acre, com foco na geração de trabalho e renda para os extrativistas, mantendo a floresta em pé.

Iniciado no ano de 2019, o projeto envolve mais de 200 famílias, alcançando mais de 50 comunidades nos municípios de Feijó, Jordão, Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo e nas Unidades Conservação Resex Alto Juruá, Alto Tarauacá, Flona São Francisco e Flona Macauã, além de um projeto de Assentamento.

Esta ação faz parte do Programa Negócios Florestais Sustentáveis e é realizada em parceria com o Partneships For Forest (P4F) e a empresa de calçados VEJA Fair Trade ou VERT, como é conhecida no Brasil.

4. Faça Florescer Floresta
Tem por promover a recuperação da cobertura do solo com a geração de benefícios ecológicos, sociais e econômicos para as comunidades locais, ajudando a diminuir a pressão sobre a floresta e a manter a biodiversidade.

Dentre as ações, destacam-se a implantação de Sistemas Agroflorestais – SAFs e a restauração florestal de áreas de nascentes.

Este projeto faz parte do programa Mudanças Climáticas e Restauração da Paisagem Florestal e conta com a parceria da Lush Fresh Handmade Cosmetics, One Tree Planted e de doações espontâneas no doe.sosamazonia.org.br (Eu protejo a Amazônia).

5. Brigadas Amazônia
Durante o ano de 2019, a Floresta Amazônica sofreu com o avanço das queimadas, totalizando a perda de 9.762 km² de floresta, representando a maior variação entre um ano e outro desde 1995. Isso corresponde a um acréscimo de 30% em relação ao ano de 2018. O projeto Brigadas Amazônia promove ações emergenciais de monitoramento e combate de desmatamento e queimadas, bem como ações de conscientização ambiental na Amazônia.

Em 2019, o projeto Brigadas Amazônia trabalhou, em parceria com o WWF Brasil, no combate, monitoramento e conscientização da atividade fogo em 354 áreas na Bacia do Juruá, incluindo a Reserva Extrativista Alto Juruá, a Reserva Extrativista do Alto Juruá, a Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade, a Floresta Estadual do Mogno e a Floresta Estadual do Rio Gregório abrangendo os rios Juruá, Envira e Tarauacá.

6. Quelônios do Juruá: Eu protejo
A SOS Amazônia realiza na região do Alto Juruá, no Acre, desde 2003, o projeto Quelônios do Juruá: Eu Protejo. Voluntariamente, mais de 50 famílias ribeirinhas monitoram praias de desovas de quelônios ao longo do rio Juruá, alcançando o Parque Nacional da Serra do Divisor e a Reserva Extrativista Alto Juruá, duas das maiores Unidades de Conservação (UC) do estado do Acre e de grande importância, por serem áreas de alta concentração de diversidade biológica e, ambas, situadas na fronteira com o Peru. A iniciativa tem por objetivo principal garantir a conservação das espécies de tartarugas, tracajás e iaçás na região.

No entanto, atualmente, as atividades de assistência técnica às famílias monitoras estão em parte comprometidas por falta de apoiadores permanentes.

7. SOS Reciclagem
A Campanha SOS Reciclagem tem por objetivo promover a educação ambiental sobre a correta destinação dos resíduos sólidos recicláveis.

A ideia começou a ser colocada em prática em fevereiro de 2013, por meio de uma campanha experimental, para separação e descarte seletivo de materiais recicláveis por 11 famílias vizinhas a instituição. Atualmente, a Campanha acontece na sede da SOS Amazônia, em Rio Branco, onde voluntariamente, pessoas dos bairros Cadeia Velha e Habitasa entregam materiais para a reciclagem.
MOBILIZAÇÃO SOCIAL
A SOS Amazônia sempre priorizou e prioriza o trabalho representativo, atuando em três campos: Conselhos; Comitê de Gestão e Acompanhamento de Projetos; e Coletivos de Mobilização Social, na defesa de causas ambientais de interesse público. Atuou por quatro mandatos no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), como representante das instituições do terceiro setor na Região Norte.

Atualmente, compõe os Conselhos estadual e municipal de meio ambiente do estado do Acre e do município de Rio Branco, respectivamente. Além de ser membro da Comissão da Produção Orgânica do Acre – CPOrg Acre, ocupando a coordenação da Comissão.
Junte-se a nós. <3 Foto: SOS Amazônia |Andre Dib

Agradecimentos e engajamento

Viver SOS Amazônia é saber que acima de qualquer coisa nossa missão é com nossa floresta, biodiversidade e os povos tradicionais. Nascemos para defender a Amazônia e isso é o que nos move.

Nosso time é composto por pessoas que abraçam e amam a causa. Neste dia tão especial, que representa uma longa jornada de esforços mútuos para a proteção da floresta, nossos maiores presentes são aqueles que acreditam em nós: associados, conselheiros, parceiros, voluntários, doadores, colaboradores e cada um, que de forma especial, contribuiu e contribui para nossa existência.

Ainda temos muito a fazer, mas nosso coração se engradece ao saber que não estamos sozinhos. Nosso sentimento é de gratidão por tudo que conquistamos até hoje.

Terminamos esse relato com uma homenagem a um dos nossos fundadores, que nos deixou em maio deste ano: o Lhé - grande defensor das minorias e do meio ambiente.
Nós nascemos aqui na Amazônia por uma árvore. Nós somos filhos da burra de leite, da seringueira. Toda a Amazônia, não é só o Acre. (...) E essa árvore mãe, né, ela formalizou cultura”
Abrahim Farhat – Lhé – em entrevista no mês de setembro de 2018 (aniversário de 30 anos da SOS Amazônia)
A mensagem do Lhé sempre nos deixa com mais força para seguir em frente e inspirou o nome do nosso programa de associados: Teia Amazônica. Em sua homenagem, querido Lhé, nós estamos formando uma #TeiaAmazônica, cheia de pessoas que se preocupam com a Floresta Amazônica. E todos, de qualquer lugar do mundo, estão convidados a fazer parte. Seguimos juntos!