É preciso considerar que presenciamos momentos atípicos neste ano de 2019, quanto a declarações políticas desfavoráveis às questões ambientais no Brasil, em especial para a Amazônia, contribuindo significativamente para movimentos de desmatamento seguidos de queimadas, quando podem ser observados os números alarmantes de agosto deste ano, bem como pelo enfraquecimento dos órgãos e instrumentos públicos de controle e redução do desmatamento, como evidencia a '
Carta aberta ao Ibama e à sociedade brasileira'.
Este
artigo da SOS Amazônia mostra imagens aéreas de desmatamento na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, em agosto de 2019, onde muitas famílias substituíram a produção extrativista pela agricultura familiar e a criação de animais, principalmente de bovinos.
Em um estudo apresentado pelo IMAZON (2019), apenas para o mês de setembro desse ano, foi detectado 802 km² de desmatamento, o que representa um aumento de 80% para o mesmo período do ano anterior. No mesmo estudo, a ONG apresenta ainda que as
florestas degradadas na Amazônia legal superaram os 1.200 km² para o mesmo mês, representando quase oito vezes mais do que setembro de 2018.
Carlos Nobre e Thomas Lovejoy assinaram um
editorial publicado na revista Science Advances em fevereiro deste ano, no qual fazem um alerta para o que chamam de
"tipping point", que seria um ponto/estágio em que Amazônia pode passar por mudanças irreversíveis. Nesse cenário, algumas regiões da Amazônia deixariam de ser florestas e se tornariam uma vegetação de savana degradada, caso o desmatamento alcance entre 20 e 25% do total de florestas, algo que estamos muito próximos de atingir. Os fatores desmatamento, mudanças climáticas e uso recorrente do fogo são impulsionadores desse cenário negativo para a Amazônia, com impactos significativos no regime de chuvas na América latina.
É cada vez mais eminente a necessidade de adotar modelos adequados de desenvolvimento para a Amazônia (Nobre et al., 2016), que considere verdadeiramente o seu potencial e riqueza, para que também suas populações humanas prosperem sem que a floresta precise ser destruída, como tem sido ao longo da história da humanidade na Terra. Talvez não tenhamos outra oportunidade!