Desmatamento na Amazônia tem a maior elevação desde 2008

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou na segunda-feira, dia 18 de novembro, os dados preliminares de desmatamento na Amazônia, verificados a partir do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), para o período de agosto de 2018 a julho de 2019. Os dados consolidados serão divulgados no primeiro semestre de 2020. Contudo, em geral, esses dados apresentam alto grau de confiabilidade quanto aos consolidados.
Figura 1. Série histórica do desmatamento anual na Amazônia Legal (Fonte: INPE/PRODES, 2019).
Em 2019, a Amazônia perdeu uma área de 9.762 km², o que corresponde a 1,4 milhões de campos de futebol ou uma área maior que 6 vezes a cidade de São Paulo, que teve a tarde do dia 19 de agosto escurecida devido a grande quantidade de biomassa queimada na Amazônia e Cerrado.
O valor representa o maior registro desde 2008, quando havia uma tendência de queda no desmatamento na Amazônia Legal (mesmo havendo flutuações nesse período). Esse ano registra uma tendência de elevação no desmatamento, representando um acréscimo de 30% em relação ao ano de 2018 (e mais de duas vezes a área desmatada em 2012, quando foi registrado o menor valor com 4751 km2), a maior variação entre um ano e outro já registrada desde 1995 (nesse ano a variação em relação a 1994 foi de 95%).

Para o ano de 2019, o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), já havia indicado o registro de 8.634 km² de área desmatada na Amazônia. Os dados de desmatamento foram apresentados na sede do INPE, em São José dos Campos, pelo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que na sua apresentação relativizou a importância dessa elevação para o ano e, principalmente, faltou em apresentar medidas concretas e emergenciais para conter essa situação, em que há uma expectativa para números mais alarmantes para 2020, caso nada ou pouco seja feito, como tem sido até o momento.
Desmatamento ilegal, ano 2019, município de Tarauacá, Acre
É preciso considerar que presenciamos momentos atípicos neste ano de 2019, quanto a declarações políticas desfavoráveis às questões ambientais no Brasil, em especial para a Amazônia, contribuindo significativamente para movimentos de desmatamento seguidos de queimadas, quando podem ser observados os números alarmantes de agosto deste ano, bem como pelo enfraquecimento dos órgãos e instrumentos públicos de controle e redução do desmatamento, como evidencia a 'Carta aberta ao Ibama e à sociedade brasileira'.

Este artigo da SOS Amazônia mostra imagens aéreas de desmatamento na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, em agosto de 2019, onde muitas famílias substituíram a produção extrativista pela agricultura familiar e a criação de animais, principalmente de bovinos.

Em um estudo apresentado pelo IMAZON (2019), apenas para o mês de setembro desse ano, foi detectado 802 km² de desmatamento, o que representa um aumento de 80% para o mesmo período do ano anterior. No mesmo estudo, a ONG apresenta ainda que as florestas degradadas na Amazônia legal superaram os 1.200 km² para o mesmo mês, representando quase oito vezes mais do que setembro de 2018.

Carlos Nobre e Thomas Lovejoy assinaram um editorial publicado na revista Science Advances em fevereiro deste ano, no qual fazem um alerta para o que chamam de "tipping point", que seria um ponto/estágio em que Amazônia pode passar por mudanças irreversíveis. Nesse cenário, algumas regiões da Amazônia deixariam de ser florestas e se tornariam uma vegetação de savana degradada, caso o desmatamento alcance entre 20 e 25% do total de florestas, algo que estamos muito próximos de atingir. Os fatores desmatamento, mudanças climáticas e uso recorrente do fogo são impulsionadores desse cenário negativo para a Amazônia, com impactos significativos no regime de chuvas na América latina.

É cada vez mais eminente a necessidade de adotar modelos adequados de desenvolvimento para a Amazônia (Nobre et al., 2016), que considere verdadeiramente o seu potencial e riqueza, para que também suas populações humanas prosperem sem que a floresta precise ser destruída, como tem sido ao longo da história da humanidade na Terra. Talvez não tenhamos outra oportunidade!

Referências

FONSECA, A.; CARDOSO, D.; RIBEIRO, J.; SALOMÃO, R.; SOUZA JR. C.; VERÍSSIMO, A. 2019. Boletim do desmatamento da Amazônia Legal (setembro 2019) SAD (p. 1). Belém: Imazon. https://k6f2r3a6.stackpathcdn.com/wp-content/uploads/2019/11/SAD-setembro2019.pdf

INPE, 2019. Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite – PRODES. Disponível em: http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/map/deforestation?hl=pt-br

INPE. 2019. Metodologia Utilizada nos Projetos PRODES e DETER. http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes/pdfs/Metodologia_Prodes_Deter_revisada.pdf

NOBRE, C.A.; SAMPAIO, G.; BORMAC, L.S.; CASTILLA-RUBIOD, J.C.; SILVA J.S.; CARDOSO, M. Land-use and climate change risks in the Amazon and the need of a novel sustainable development paradigm. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. v. 113, n. 39, 2016.

Por Álisson Maranho e Wendeson Castro

Publicado em 21/11/2019