Antes mesmo que o sol possa aparecer ecoa na floresta vários sons, convidando os extrativistas a pegarem a estrada para extrair o látex da seringueira, e assim, garantir o aumento da renda familiar, sem destruir a floresta – um exemplo de que homem e natureza prosperam juntos.
Quatro profissionais da SOS Amazônia deixam suas casas para navegar dezenas de rios amazônicos, para promover as atividades do projeto de fortalecimento da borracha CPV (Cernambi Virgem Prensado), realizado pela SOS Amazônia em parceria com empresa de calçados VEJA Fair Trade ou VERT, como é conhecida no Brasil, e com o apoio da Partneships For Forest - P4F.
A iniciativa tem por objetivo ampliar a produção de borracha nativa, gerando trabalho e renda para famílias extrativistas na região do Vale do Juruá, tarauacá/envira e purus no Acre, principalmente em áreas de difícil acesso e com alta vulnerabilidade social.
A VERT usa a borracha do Acre na produção de seus calçados há 10 anos. ,Com demanda crescente, o cenário abre oportunidades para novas famílias trabalharem na cadeia de valor da borracha nativa. Hoje, as famílias que estão produzindo, não conseguem mais atender a uma demanda tão alta. Este ano, a fabricação deve chegar em torno de 250 toneladas e a previsão para 2020 e que chegue a 400(t). O desafio do projeto é de ampliar de 300 para 500 famílias e prepara-las para atender as exigências do mercado, com oficinas de gestão financeira, gestão de produção e gestão de pessoas.
Perfil das famílias
É comum nas famílias extrativistas eles realizarem os trabalhos juntos, dividindo tarefas. Pai e filhos percorrem as estradas cortando a seringa, e as mulheres colhem horas após o corte. A taxa de jovens que se cadastram como beneficiários chega a 30%. Desde pequeno eles vivenciam, de alguma forma, a atividade. Um ciclo que se inicia no berço, regado de cultura e história, onde o avô cortou seringa, o pai também e agora o filho segue seus passos.
Difícil acesso
Foram 45 dias de atividades em campo, navegando pelos rios: Tarauacá, Envira, Juruparí, Paraná do Ouro e Val Paraíso no Juruá, para realiza a visita a mais ou menos 250 famílias, sendo que destas, 200 passaram a ser beneficiários do projeto.
Mais de 10 horas de navegação diária. A dificuldade de acessar as comunidades não impediu que as atividades em campo fossem até o fim. No município de Feijó, era preciso caminhar mais de três horas partindo da comunidade até olocal das estradas de seringas. O deslocamento em Porto Walter chegou a durar de 8h à 12h, com a saída do município até alcançar as comunidades.
“O projeto tinha a opção de trabalhar com comunidades menos isoladas. Isso facilitaria muito a logística e reduziria consideravelmente os custos. Mas, não faz nenhum sentido para a SOS Amazônia e parceiros dessa iniciativa deixar de incluir comunitários que têm dificuldade de acesso a políticas públicas governamentais”, explica Adair Duarte, coordenador de projetos da SOS Amazônia.
Valorização do Preço
A Vert paga R$ 8,00 o quilo para o extrativista da borracha, sendo R$ 4,50 (família que aderir ao projeto se compromete a trabalhar dentro de critérios socioambientais estabelecidos), mais R$ 2,50 (preço comercial) e R$1,00 (prêmio de qualidade da borracha), totalizando os R$8,00.
“Teve um jovem da comunidade Paraná do Ouro que expressou a importância de trabalhar com a seringa, afirmando que tudo que a família dele tem veio da borracha. Ele estava começando a cortar porque queria comprar as coisas deles, e a borracha trouxe essa oportunidade para ele, nós trouxemos”, ressalta Thayna Souza, executiva ambientalista da SOS Amazônia.
Por Khelven Castro