Em março, celebramos a conquista que as mulheres obtiveram na luta por direitos civis e, mais do que isso, colocamos em pauta questões políticas, de gênero e de empoderamento da mulher diante da violência e da opressão. Desde 1975, o Dia da Mulher é celebrado em 8 de março, quando foi oficializado pela ONU (Organização das Nações Unidas). Contudo, as primeiras movimentações em defesa das mulheres surgiram muito antes, em 1909, em países como Estados Unidades e Dinamarca.
A data nos convida a refletir sobre os passos que ainda precisamos dar na sociedade para que as mulheres tenham efetiva igualdade de direitos em relação aos homens ao mesmo tempo em que sejam respeitadas na sua integridade e singularidade enquanto mulher.
Para além do Dia da Mulher, a SOS Amazônia possui uma série de políticas afirmativas para valorização das mulheres entre sua equipe de colaboradores e nas atividades de campo. Em parceria com a empresa Veja/Vert e o Instituto de Desenvolvimento Social, desenvolve um projeto destinado exclusivamente às mulheres extrativistas vinculadas à cadeia da borracha. Confira.
A data nos convida a refletir sobre os passos que ainda precisamos dar na sociedade para que as mulheres tenham efetiva igualdade de direitos em relação aos homens ao mesmo tempo em que sejam respeitadas na sua integridade e singularidade enquanto mulher.
Para além do Dia da Mulher, a SOS Amazônia possui uma série de políticas afirmativas para valorização das mulheres entre sua equipe de colaboradores e nas atividades de campo. Em parceria com a empresa Veja/Vert e o Instituto de Desenvolvimento Social, desenvolve um projeto destinado exclusivamente às mulheres extrativistas vinculadas à cadeia da borracha. Confira.
Mulheres da Borracha
A floresta, a água, a vida são manifestações da natureza que guardam em si o princípio feminino, envolto em mistério e magia. Talvez por isso, a extrativista Sirlei Gomes da Silva, de 44 anos, sente-se tão à vontade em meio à floresta. O sonho de exercer o ofício de seringueira vem desde a infância, quando acompanhava o pai nas estradas de seringa. “Mas ele nunca me deixava cortar porque tinha ciúme das estradas dele, dizia que um corte errado podia prejudicar a seringueira”, relembra.
Como quem deposita uma semente na terra do sonho, Sirlei nutria a vontade de um dia cortar seringa. Somente depois de casada e após as complicações que o marido teve em decorrência da covid-19, ela conseguiu finalmente dedicar-se à função e agora se reconhece como uma mulher da floresta. “Antes eu estava na sombra do meu marido. Agora, eu tenho que me valorizar e reconhecer meu lugar”, comenta.
Sair desse “lugar de sombra” e reconhecer-se como mulher extrativista parece algo simples, mas representa uma grande conquista, principalmente, se considerarmos que, na história da ocupação da Amazônia, as mulheres foram invisibilizadas ao longo desse processo e, historicamente, os homens ocuparam os lugares de poder, de tomada de decisão e de reconhecimento. A desigualdade entre homens e mulheres na cadeia da borracha é reflexo, portanto, de uma estrutura social dominada pelo patriarcado e tem raízes profundas na formação social do Acre.
Sirlei é uma das 862 mulheres que participaram de oficinas promovidas pelo projeto Mulheres da Borracha, desenvolvido pela SOS Amazônia, Instituto de Desenvolvimento Social e Veja/Vert, por meio do Departamento Zelar, responsável pela política socioambiental da empresa. O projeto busca reconhecer, valorizar e ampliar a consciência das mulheres sobre a importância de sua participação na produção de borracha como também no ambiente familiar e social.
A floresta, a água, a vida são manifestações da natureza que guardam em si o princípio feminino, envolto em mistério e magia. Talvez por isso, a extrativista Sirlei Gomes da Silva, de 44 anos, sente-se tão à vontade em meio à floresta. O sonho de exercer o ofício de seringueira vem desde a infância, quando acompanhava o pai nas estradas de seringa. “Mas ele nunca me deixava cortar porque tinha ciúme das estradas dele, dizia que um corte errado podia prejudicar a seringueira”, relembra.
Como quem deposita uma semente na terra do sonho, Sirlei nutria a vontade de um dia cortar seringa. Somente depois de casada e após as complicações que o marido teve em decorrência da covid-19, ela conseguiu finalmente dedicar-se à função e agora se reconhece como uma mulher da floresta. “Antes eu estava na sombra do meu marido. Agora, eu tenho que me valorizar e reconhecer meu lugar”, comenta.
Sair desse “lugar de sombra” e reconhecer-se como mulher extrativista parece algo simples, mas representa uma grande conquista, principalmente, se considerarmos que, na história da ocupação da Amazônia, as mulheres foram invisibilizadas ao longo desse processo e, historicamente, os homens ocuparam os lugares de poder, de tomada de decisão e de reconhecimento. A desigualdade entre homens e mulheres na cadeia da borracha é reflexo, portanto, de uma estrutura social dominada pelo patriarcado e tem raízes profundas na formação social do Acre.
Sirlei é uma das 862 mulheres que participaram de oficinas promovidas pelo projeto Mulheres da Borracha, desenvolvido pela SOS Amazônia, Instituto de Desenvolvimento Social e Veja/Vert, por meio do Departamento Zelar, responsável pela política socioambiental da empresa. O projeto busca reconhecer, valorizar e ampliar a consciência das mulheres sobre a importância de sua participação na produção de borracha como também no ambiente familiar e social.
Com o lema “borracha sustentável é produção familiar’, o projeto evidencia que as mulheres também estão envolvidas nas diversas etapas da cadeia produtiva, desde o corte, passando pelo beneficiamento do látex até a comercialização. Para muitas mulheres, ainda é uma surpresa se reconhecer como seringueiras ou extrativistas, já que, até então, elas estavam condicionadas à função de ajudante e quem sempre respondia pela atividade era o pai, o marido, o irmão...
“Eu tinha uma consciência de que o produtor era somente aquele que cortava seringa. E eu aprendi com as oficinas que não. Se você ajuda em alguma etapa, você trabalha na cadeia e é uma produtora de borracha”, afirma a extrativista Nilva da Cunha, de 47 anos, liderança comunitária no Assentamento Campo Alegre, município de Capixaba.
A jovem Liliane Martins, de 29, nasceu em uma família de seringueiros, mas somente agora pretende se dedicar à atividade dos pais, tios e avós. Ao contrário do que aconteceu com outras mulheres de sua família, Liliane pretende cuidar de tudo e ficar em posição de destaque. “Minha avó contava que, antes, ela e o esposo trabalhavam na estrada de seringa, mas só quem levava o nome era meu avô. Sendo que ele somente abria a estrada e era ela quem cortava, colhia e defumava o látex”, diz Liliane.
Para reverter esse cenário, o projeto Mulheres da Borracha está alinhado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU para que, até 2030, as mulheres estejam em equidade com os homens em relação a salários, informações, direitos e oportunidades. “Nós, da SOS Amazônia, temos esse privilégio de conduzir esse projeto pioneiro, específico para mulheres ligadas à cadeia da borracha”, celebra Gabriela Antonia, coordenadora do projeto Mulheres da Borracha.
“Eu tinha uma consciência de que o produtor era somente aquele que cortava seringa. E eu aprendi com as oficinas que não. Se você ajuda em alguma etapa, você trabalha na cadeia e é uma produtora de borracha”, afirma a extrativista Nilva da Cunha, de 47 anos, liderança comunitária no Assentamento Campo Alegre, município de Capixaba.
A jovem Liliane Martins, de 29, nasceu em uma família de seringueiros, mas somente agora pretende se dedicar à atividade dos pais, tios e avós. Ao contrário do que aconteceu com outras mulheres de sua família, Liliane pretende cuidar de tudo e ficar em posição de destaque. “Minha avó contava que, antes, ela e o esposo trabalhavam na estrada de seringa, mas só quem levava o nome era meu avô. Sendo que ele somente abria a estrada e era ela quem cortava, colhia e defumava o látex”, diz Liliane.
Para reverter esse cenário, o projeto Mulheres da Borracha está alinhado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU para que, até 2030, as mulheres estejam em equidade com os homens em relação a salários, informações, direitos e oportunidades. “Nós, da SOS Amazônia, temos esse privilégio de conduzir esse projeto pioneiro, específico para mulheres ligadas à cadeia da borracha”, celebra Gabriela Antonia, coordenadora do projeto Mulheres da Borracha.
Oficinas de empoderamento
Gabriela esteve à frente das oficinas comunitárias, muitas delas realizadas em locais de difícil acesso, que nunca tinham sido contempladas com projetos sociais, muito menos voltados especificamente para as mulheres. O resultado não poderia ser melhor! “Para a maioria, um projeto que trata de assuntos e pautas relacionados às mulheres extrativistas é uma novidade. Elas são inteligentes, espertas e as maiores aliadas na causa ambiental, preservando e conservado a floresta e o meio ambiente”, considera Gabriela.
O roteiro metodológico das oficinas foi elaborado pelas consultoras Débora Almeida e Fernanda Basso (IDS) e inclui atividades lúdicas, dinâmicas de grupo e apresentações artísticas com o objetivo de promover a troca de experiências, despertar a autovalorização e desenvolver habilidades multiplicadoras, que possam ser adotadas nas comunidades onde residem para mobilização de outras mulheres ligadas à cadeia de valor da borracha.
“A proposta é ampliar a percepção da mulher nos diferentes espaços de atuação em que ela ocupa, seja na família, na cooperativa ou no movimento social, para que elas possam lidar com os desafios e mobilizar outras mulheres, como abelhas que polinizam outras flores”, compara Débora Almeida.
De acordo com Gabriela, o trabalho com as oficinas tem gerado resultados positivos e despertado nas mulheres o interesse em ocupar cargos na diretoria de cooperativas, associações e sindicatos, bem como de regularizar seus direitos previdenciários. Contribui ainda para um maior envolvimento das mulheres nas relações comerciais e formação de jovens lideranças. Outro benefício está ligado à sustentabilidade e manutenção da floresta em pé. Para que ocorram as práticas extrativistas, é preciso ter um ambiente de floresta conservado.
“Como demonstram vários estudos relacionados a gênero, constato em campo que as mulheres são as principais aliadas da pauta ambiental. Elas estão sempre mais preocupadas com a floresta, com os rios, com o solo, como também com a família, com a casa e com a comunidade. Sem as mulheres, as práticas extrativistas estariam comprometidas ou não existiram com tanta força. Elas são as grandes guardiãs de toda essa riqueza e de toda essa sabedoria”, ressalta Gabriela.
Gabriela esteve à frente das oficinas comunitárias, muitas delas realizadas em locais de difícil acesso, que nunca tinham sido contempladas com projetos sociais, muito menos voltados especificamente para as mulheres. O resultado não poderia ser melhor! “Para a maioria, um projeto que trata de assuntos e pautas relacionados às mulheres extrativistas é uma novidade. Elas são inteligentes, espertas e as maiores aliadas na causa ambiental, preservando e conservado a floresta e o meio ambiente”, considera Gabriela.
O roteiro metodológico das oficinas foi elaborado pelas consultoras Débora Almeida e Fernanda Basso (IDS) e inclui atividades lúdicas, dinâmicas de grupo e apresentações artísticas com o objetivo de promover a troca de experiências, despertar a autovalorização e desenvolver habilidades multiplicadoras, que possam ser adotadas nas comunidades onde residem para mobilização de outras mulheres ligadas à cadeia de valor da borracha.
“A proposta é ampliar a percepção da mulher nos diferentes espaços de atuação em que ela ocupa, seja na família, na cooperativa ou no movimento social, para que elas possam lidar com os desafios e mobilizar outras mulheres, como abelhas que polinizam outras flores”, compara Débora Almeida.
De acordo com Gabriela, o trabalho com as oficinas tem gerado resultados positivos e despertado nas mulheres o interesse em ocupar cargos na diretoria de cooperativas, associações e sindicatos, bem como de regularizar seus direitos previdenciários. Contribui ainda para um maior envolvimento das mulheres nas relações comerciais e formação de jovens lideranças. Outro benefício está ligado à sustentabilidade e manutenção da floresta em pé. Para que ocorram as práticas extrativistas, é preciso ter um ambiente de floresta conservado.
“Como demonstram vários estudos relacionados a gênero, constato em campo que as mulheres são as principais aliadas da pauta ambiental. Elas estão sempre mais preocupadas com a floresta, com os rios, com o solo, como também com a família, com a casa e com a comunidade. Sem as mulheres, as práticas extrativistas estariam comprometidas ou não existiram com tanta força. Elas são as grandes guardiãs de toda essa riqueza e de toda essa sabedoria”, ressalta Gabriela.
Cadeia da borracha
A extração do látex foi, por muito tempo, o principal trabalho com renda da população acreana, sobretudo das famílias que viviam no interior da floresta e tinham como modo de vida o extrativismo. No final do século 19, durante o primeiro ciclo da borracha, havia alta demanda pelo látex oriundo da Amazônia, especialmente para a indústria automobilística. No entanto, o produto era pouco valorizado em termos econômicos e os trabalhadores viviam em um sistema de forma análoga à escravidão.
A busca por novos mercados, com preços justos e melhores condições de trabalho, motivou a reabertura de antigas estradas de seringa, desativadas desde a década de 1990, quando a borracha nativa era comercializada a preços irrisórios. Com incentivo da Veja/Vert, empresa francesa que utiliza borracha natural na fabricação de tênis, a tradicional coleta da seringa (re)surge como uma alternativa de renda e de resistência à degradação ambiental que coloca em risco a biodiversidade e os modos de vida de populações tradicionais.
Além do valor comercial por quilo de borracha, a Veja/Vert acrescenta o Pagamento por Serviço Socioambiental (PSSA), uma espécie de incentivo às famílias para conservação da floresta. O valor é pago à Cooperacre (Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre), que agrega onze cooperativas locais, que repassam o subsídio às famílias cooperadas.
“Nós começamos esse trabalho em Assis Brasil, em 2007, com a compra de cinco mil quilos de borracha. Hoje, o preço comercial do látex está em torno de R$ 3,50 e o preço que nós pagamos através da Cooperacre para cada família produtora, em 2022, foi de R$ 12. Esse diferencial é resultado de um trabalho de anos com vários parceiros para que a borracha seja colhida de maneira sustentável”, conta François Morillion, cofundador da Veja/Vert.
A extração do látex foi, por muito tempo, o principal trabalho com renda da população acreana, sobretudo das famílias que viviam no interior da floresta e tinham como modo de vida o extrativismo. No final do século 19, durante o primeiro ciclo da borracha, havia alta demanda pelo látex oriundo da Amazônia, especialmente para a indústria automobilística. No entanto, o produto era pouco valorizado em termos econômicos e os trabalhadores viviam em um sistema de forma análoga à escravidão.
A busca por novos mercados, com preços justos e melhores condições de trabalho, motivou a reabertura de antigas estradas de seringa, desativadas desde a década de 1990, quando a borracha nativa era comercializada a preços irrisórios. Com incentivo da Veja/Vert, empresa francesa que utiliza borracha natural na fabricação de tênis, a tradicional coleta da seringa (re)surge como uma alternativa de renda e de resistência à degradação ambiental que coloca em risco a biodiversidade e os modos de vida de populações tradicionais.
Além do valor comercial por quilo de borracha, a Veja/Vert acrescenta o Pagamento por Serviço Socioambiental (PSSA), uma espécie de incentivo às famílias para conservação da floresta. O valor é pago à Cooperacre (Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre), que agrega onze cooperativas locais, que repassam o subsídio às famílias cooperadas.
“Nós começamos esse trabalho em Assis Brasil, em 2007, com a compra de cinco mil quilos de borracha. Hoje, o preço comercial do látex está em torno de R$ 3,50 e o preço que nós pagamos através da Cooperacre para cada família produtora, em 2022, foi de R$ 12. Esse diferencial é resultado de um trabalho de anos com vários parceiros para que a borracha seja colhida de maneira sustentável”, conta François Morillion, cofundador da Veja/Vert.