Depois de dez dias de suspense e investigação, os irmãos Oseney da Costa de Oliveira e Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, confessaram o assassinato da dupla à Polícia Federal.
O crime evidencia uma política de governo do Brasil que não prioriza povos indígenas, indigenistas e jornalistas ao passo em que legitima práticas ilegais de desmatamento, garimpo e pesca, além de colocar em risco Terras Indígenas e Unidades de Conservação.
É no mínimo descabido e irresponsável o descaso do governo brasileiro em não dar celeridade às buscas corroborado pelo discurso do presidente Jair Bolsonaro em culpabilizar os profissionais Bruno e Dom por empreender “uma aventura que não é recomendável que se faça”.
Dom Philips estava na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas, como colaborador do jornal britânico The Guardian, para investigar as principais ameaças à região, como a pesca ilegal, o garimpo e a presença do crime organizado. Durante sua expedição, Dom contava com o apoio do indigenista Bruno Pereira, conhecedor da Terra Indígena do Vale do Javari por sua longa atuação como servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Considerando os fatos veiculados na imprensa, o caso entra na esteira da violência histórica cometida contra defensores das populações originárias e dos povos extrativistas da Amazônia, como Chico Mendes, Wilson Pinheiro, Doroth Stang e tantos outros que pagaram com a vida por defender os povos e a floresta onde vivem. Não para menos, o Brasil aparece em 4º lugar no ranking mundial dos países que mais cometem violência contra ativistas, de acordo com o relatório “A última linha de defesa”, da ONG Global Witness, divulgado em setembro de 2021.
Nesse momento de incertezas e de implantação de uma política que privilegia grandes empresários, negócios ilegais e tudo que possa afetar negativamente os povos indígenas no Brasil, manifestamos nossa preocupação com as populações tradicionais e nosso entendimento de que fatos como esse não podem mais acontecer e que o principal caminho para essa condição é ter o estado brasileiro presente, especialmente na região do Vale do Javari, assistindo as famílias de ribeirinhos e povos indígenas lá residentes. E isto se concretiza pela atuação efetiva e contínua de órgãos como a Funai e o Ibama.