Os órgãos de proteção ambiental vão receber nos próximos dias um relatório montado pela Comissão de Investigação da Câmara de Vereadores de Rio Branco que avaliou os danos e a degradação do igarapé Batista, que corta parte da cidade.
O documento aponta que o poder público é o principal inimigo do manancial. São dezenas de obras construídas a margem e próximas ao igarapé sem o licenciamento ambiental ou sem um projeto para recuperação dos esgotos.
A agonia do Batista começa na estrada Transacreana. A obra de recuperação do antigo lixão acabou com a principal nascente do igarapé. Atualmente, no local, existe uma lagoa que impressiona pelo tamanho. De longe, parece água limpa, mas, na verdade, é tóxica.
O igarapé vai conseguir se recuperar alguns metros mais a frente quando existem outras nascentes. No entanto, quando começa a se aproximar da parte urbana, volta a ser atacado novamente com esgoto e lixo.
Na região do Calafate, 12 conjuntos habitacionais foram construídos ao lado do Batista. Adivinha onde vai parar o esgoto das casas?
A prefeitura construiu uma estação de tratamento. Nunca funcionou e está abandonada enquanto a água escura do igarapé passa ao lado.
Na área, existe uma vegetação, que serve apenas para esconder o verdadeiro cenário encontrado no igarapé. Descobrimos casas construídas na área de proteção às margens do igarapé.
Todo o lixo vai para o córrego, que, em alguns pontos, com a correnteza fraca, não consegue levar restos de fogão geladeira, sofá e muitas garrafas plásticas. Flagramos uma máquina fazendo aterro, possivelmente mais uma construção.
A dona de casa Natália Mendonça disse que mora no local há 5 anos. Houve uma promessa da Prefeitura de Rio Branco de retirar as famílias, mas, até agora, nada foi feito. “Desde 2009 que espero uma casa. Assim posso sair dessa área de proteção que hoje é um risco para minha família, mas não tenho para onde ir”, declarou.
No conjunto Wilson Ribeiro, o poder público também ajuda a poluir o igarapé. A rede de esgoto vai direto para manancial, que, além da água escura, tem um odor forte. No Laélia Alcântara, encontramos outro sistema de tratamento de esgoto abandonado.
Na ponte que interliga o Calafate, notamos a presença de urubus. Eles se alimentavam de um animal morto, que foi jogado no igarapé.
No Hospital das Clínicas, antiga Fundação Hospitalar, existe um sistema de tratamento de esgoto que não funciona. Os rejeitos entram e saem in natura para o leito do Igarapé Batista.
Depois do hospital, a água poluída segue por uma área onde existem construções de prédios, conjunto habitacional e até uma faculdade particular. Todos à margem do igarapé.
A cada metro que entra na cidade, o Batista vai ficando mais poluído. Segundo o relator da Comissão de Investigação, vereador Raimundo Vaz, são seis quilômetros de destruição até desaguar no São Francisco, outro igarapé ameaçado.
De acordo com o relator, o igarapé está morto. “Hoje, ele funciona apenas como um grande esgoto a céu aberto”, completou.
O relatório que ainda será enviado aos órgãos de proteção ao meio ambiente aponta que obras do Estado e do Município foram executadas próximas ao igarapé sem o licenciamento ambiental.
Em todos os conjuntos e obras de prédios públicos, não existem projetos para exigir o tratamento do esgoto; a fiscalização é falha, permite que o igarapé e a mata ciliar sejam destruídos e, no fim, cita que proteção ao meio ambiente não é prioridade para a Prefeitura.
A secretária de Meio Ambiente de Rio Branco, Silvia Brilhante, disse que já conhecia a situação do igarapé e confirma que é preciso uma política ambiental para tentar salvar não só o Batista, mas todos os igarapés que cortam a cidade.
O relatório da Câmara tem uma série de recomendações à prefeitura para proteger o Batista. Resta saber se não será tratada apenas como folhas de papel.
Fonte: Agazeta.net | Foto: Reprodução.