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Equipe da SOS Amazônia debate conceito de gênero

Roda de conversa contou com a participação da psicóloga e professora da Ufac, Madge Porto. As informações irão subsidiar a elaboração de política interna voltada à equidade de gênero.

Prestes a completar 33 anos de fundação, a SOS Amazônia passa por um processo de revisão e consolidação de suas políticas internas, voltadas à promoção de um ambiente de harmonia, respeito, bem-estar e integridade institucional. Para enriquecer o debate sobre equidade de gênero, a equipe recebeu a psicóloga e professora da Ufac, Madge Porto. O encontro virtual, realizado no dia 1º de setembro, abordou o conceito de gênero e as representações simbólicas do que significa ser homem ou mulher.

“A definição de gênero não é uma determinação biológica, mas uma construção sociocultural. Essa construção tem início quando a criança ainda está na barriga da mãe”, afirma a pesquisadora. Diante de uma mulher grávida, costuma-se perguntar de imediato: “é menino ou menina?” A partir do sexo do bebê, vislumbra-se uma série de padrões e comportamentos construídos socialmente que irão condicionar as brincadeiras, as vestimentas, a profissão e o relacionamento afetivo-sexual que o bebê irá adotar ao longo da vida.

Por exemplo, se for menina, usará roupinhas cor de rosa e brincará com bonecas. O menino, por sua vez, usará roupinhas azuis e brincará com carrinhos. A situação parece ingênua e despretensiosa, não fosse a complexidade desses condicionamentos na vida de qualquer pessoa, a restrição da liberdade individual e os desdobramentos psicológicos e sociais desses padrões relacionados ao gênero masculino e feminino.

De acordo com Madge, a concepção de gênero é atravessada por questões de poder, disputa política e preconceito, que subjugam a mulher ao mesmo tempo em que reforçam a superioridade masculina, dentro de padrões heteronormativos. Como resultado do machismo e da misoginia, a pesquisadora relatou que treze mulheres são assassinadas por dia no Brasil, conforme o Atlas da Violência, e que o estado do Acre lidera a lista de feminicídios. As raízes históricas desse processo, segundo ela, estão na formação da sociedade brasileira, baseada no tripé patriarcalismo, colonialismo e escravismo.

Madge também chamou a atenção para a linguagem, evidenciando o quanto as palavras são carregadas de sentido e, desse modo, podem legitimar ou desvalorizar os gêneros. Substantivos como cão, touro, aventureiro, aplicados ao comportamento masculino, servem para afirmar a lealdade, a virilidade e a coragem do homem. Já a versão feminina desses substantivos (cadela, vaca, aventureira) é carregada de sentido pejorativo e de cunho sexual, que servem para desvalorizar a mulher e retirar sua humanidade.

Álisson Maranho, diretor técnico da SOS Amazônia, considera que o debate sobre gênero foi inspirador e repleto de aprendizados. “Vale a pena incluir essa reflexão nas ações da SOS Amazônia e nas nossas vidas. Além disso, é um aspecto que olharemos com mais atenção, com diálogo aberto”, diz.

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