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Ribeirinhos colhem segunda safra de cacau silvestre no Juruá

O projeto Valores da Amazônia busca desde 2015, estruturar, fortalecer e integrar as cadeias de valores de produtos florestais não madeireiros (Cacau Silvestre, Borracha Nativa e Óleos Vegetais), com foco na geração de trabalho e renda, e no desenvolvimento sustentável da região.

São vários os resultados que essa iniciativa proporcionou. Um deles foi a descoberta do grande potencial do cacau silvestre no Juruá, tornando-o mais uma fonte de renda para as famílias que vivem naquela região.

Investimento em estruturas e em cursos de beneficiamento da produção

Além de estruturas construídas, como as barcaças para secagem de amêndoas, a SOS Amazônia em parceria com o pesquisar Daniel O’Doherty, da Cacao Services, Luisa Abram e representantes da Cooperar, promoveram em fevereiro de 2015, uma capacitação sobre o Beneficiamento do Cacau Silvestre Tipo Fino, com o objetivo de ensinar técnicas de manejo para que o cacau atenda um padrão de alta qualidade exigido no mercado.

O manejo do cacau ainda não era feito na região. Alisson Maranho, na época, coordenador geral do projeto Valores, conta em entrevista que a primeira safra do cacau coletada a partir deste projeto é histórica. “Essa primeira safra de cacau é histórica para os produtores da região. É o início de uma trajetória que pode gerar boas transformações sociais e a garantir que a floresta continue preservada”, observa.

Qualidade do fruto

O cacau utilizado pelos extrativistas no Juruá é o silvestre, jamais utilizado antes nessa região para comercialização. Daniel O’Doherty comentou em 2015 em uma entrevista a SOS Amazônia que esse cacau é puro, contendo uma qualidade exclusiva. “O cacau que encontramos aqui é puro, sem mistura com outras espécies de cacau. Isso daqui é extremamente raro, não tem nada de cacau externo vindo para cá, tanto que encontramos um índice baixo de árvores com doença, um pouco de vassoura de bruxa e nenhuma monília. Apesar de não ter muitos recursos, o trabalho que vocês estão fazendo aqui é incrível”, diz.

Para Luisa Abram, da empresa Luisa Abram chocolates, conta que sua meta é sempre aprimorar seus produtos. “Meu foco é procurar origens de cacau inéditas, então o Juruá foi um projeto que veio de um seminário do Valores da Amazônia que participei em Rio Branco, onde pude conhecer esse cacau, com isso eu consegui criar duas novas barras para venda e mais uma origem de cacau”, ressalta.

Luisa Abram possui uma barra (70% Juruá) premiada com quatro categorias, sendo:

Bronze - prêmio BEAN TO BAR Brasil 2019
Prata - International  Chocolate Awards categoria Américas 2019
Ouro- International Chocolate Awards categoria Brasil 2019

“Ter um pedacinho do Juruá nos nossos chocolates é gratificante, me sinto realizada”, destaca Luisa.

Segunda safra do cacau silvestre do Juruá

Embora o volume da produção de amêndoas de cacau silvestre na região do Vale do Juruá, seja ainda pequena, os ribeirinhos estão animados com as perspectivas de trabalho e renda na comunidade.

Este ano, os extrativistas chegaram na sua segunda safra de cacau, colhendo cerca de 600kg do fruto. Mesmo com a elevação do rio e as alagações, ele está positivo e contente com a safra colhida. Osmir Adriola, extrativista, comenta o quão é gratificante ter uma renda a partir da sua produção. “Isso é gratificante, a safra não foi ótima, mas foi boa. Além disso, a produção de cacau ajuda as famílias que trabalham na tirada e na quebra do cacau com uma renda e aquece a pequena economia local. Eu não penso só no meu bem-estar, mas também dos outros”, ressalta.

Além das iniciativas feitas por meio do Valores da Amazônia, atualmente, para aumentar a produção de frutos, a SOS Amazônia está incentivando e apoiando a implantação de Sistemas Agroflorestais – SAFs, com o plantio de mudas feitas durante a coleta de cacau silvestre na região do Juruá.

As atividades de manejo das áreas de cacaueiros iniciaram com as famílias em 2017, em 2018 foi a primeira safra de 1 tonelada.

Infelizmente, em 2019 não teve produção por conta de várias alagações do rio Juruá nos meses de novembro, dezembro e janeiro, perdendo a frutificação. Agora em 2020, a produção chega a 600kg, mesmo sofrendo com as enchentes.

Hoje há 12 famílias trabalhando com o manejo dos cacaueiros silvestres e comercializando os frutos para serem beneficiados no núcleo da comunidade Novo Horizonte, localizada no município de Guajará – Am.
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