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Árvores se conectam por um mundo mais saudável

Por Eliz Tessinari e Wendeson Castro


A falta de consciência ambiental em relação aos cuidados que devemos ter com a água, com os resíduos sólidos e com a proteção das nossas florestas, ainda é muito grande. E cada vez mais toda a vida do planeta vem sentindo as consequências do impacto do ser humano sobre o ambiente.  


A cada ano é cortada cerca de 15 bilhões de árvores do nosso planeta, o equivalente a 3,8% do total das 390 bilhões de árvores da Amazônia. Se essas cortadas forem Samaúmas da Amazônia, por exemplo, temos uma perda total diária de 15 bilhões de toneladas de água lançadas na atmosfera.


Este percentual da velocidade atual de remoção anual de árvores sugere que nas próximas três décadas ou até 2050 quando seremos uma população global estimada em 9,7 bilhões de humanos, se persistirmos com essa forma de ação prejudicial à saúde do planeta, vamos eliminar cerca de 15% das três trilhões de árvores que coexistem conosco agora.

Com cerca de dois trilhões de árvores por toda a faixa tropical da esfera terrestre ou cerca de 66% do total das três trilhões de árvores que vivem no planeta, as florestas tropicais são responsáveis por mais de 30% da produtividade primária líquida global e detém 55% do carbono estocado nas florestas da terra.


Árvore - um tesouro espetacular do planeta Terra

As árvores são um dos mais espetaculares tesouros do planeta Terra – elas são a profusão de vida que inala gás carbônico e exala oxigênio, transpira água, emite odores mágicos, remove gases tóxicos, pulsa e regula, umedece e faz chover, propele ventos e alimenta rios aéreos, acalmando a fúria dos elementos, tornando amigo o clima próximo e também o mais distante, conforme o primeiro Relatório de Avaliação Científica sobre “O Futuro Climático da Amazônia” do Professor Antonio Donato Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE.


Em maio deste ano, um estudo na conceituada revista científica Nature, mostrou que cerca de 60% de todas as árvores da Terra estão distribuídas em apenas dois por cento das árvores ectomicorrízicas, que são aquelas plantas que possuem uma relação simbiótica com fungos, na qual ambos os organismos são beneficiados na relação.


E, o pó de pirlimpimpim na forma poética do Professor Nobre, o aroma mágico exalado pelas árvores Amazônica, que são os gases chamados de compostos orgânicos voláteis biogênicos (BVOCs), quando combinados na atmosfera com outras substâncias na presença da radiação solar, produzem a própria chuva que cai sobre a floresta.


Uma potência de produção de chuva

A Floresta é a principal aliada do ser humano para a produção de alimentos e manutenção da vida


Uma das maiores espécies da Amazônia, a Samaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn), coloca sozinha 1.000 litros de água, por dia, na atmosfera | Foto: Álisson Maranho

Por meio da evapotranspiração*, um processo no qual as árvores extraem água do solo profundo e bombeiam de volta para atmosfera, mesmo durante a estação seca, esta bomba biótica* recicla 25-56% das chuvas dentro dos ecossistemas. Elas aumentam a umidade do ar, evitam a erosão do solo, é sombra, abrigo e fornecem alimentos, e têm papel fundamental para regular o clima.


Calcula-se que, em apenas um dia, a Amazônia inteira coloca 20 bilhões de toneladas água na atmosfera, mais do que 1,2 vezes a vazão diária do Rio Amazonas que são 17 bilhões de toneladas de água por dia descarregadas no oceano atlântico. Uma das maiores espécies da Amazônia, a Samaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn), coloca sozinha 1.000 litros de água, por dia, na atmosfera. Imagina a Floresta Amazônica inteira! Estamos falando de uma potência de produção de chuva – essencial para o equilíbrio dos ecossistemas aqui e em outras regiões do planeta.


Fragmento florestal urbano destacado em vermelho com 66.1 hectares onde está situado o Parque Ambiental Chico Mendes, Rio Branco, Acre. Fonte: Google Earth Pro

Por comparação, um fragmento florestal urbano onde está situado o Parque Ambiental Chico Mendes na capital do Estado do Acre, em torno de 66,1 hectares tem o potencial de produzir por dia 2.379.600 milhões de litros de água (ou 2380 toneladas de água), o equivalente a jorrar para atmosfera o suficiente para abastecer uma população de 21.398 habitantes do município de Brasiléia, Acre – considerando os 110 litros/dia de água recomendados como suficientes para atender as necessidades humanas pela Organização das Nações Unidas.

Esse serviço ambiental que as árvores da Amazônia fornecem a cada dia por meio da transpiração são a bomba d'água, ou a bomba biótica* no oceano verde*, vital na dinâmica dos rios voadores que carregam água para região centro-sul, por exemplo, onde a agricultura tem um papel significativo no PIB Nacional.


É de uma grandeza extraordinária o quanto a Amazônia faz diferença na vida das pessoas, tanto para quem vive nela quanto para quem mora em outras regiões. Ou seja, dentre os mais variados benefícios ou serviços ambientais, a Floresta é a principal aliada do ser humano para a produção de alimentos e manutenção da vida. 



* Os modelos mais recentes incluem representações da atmosfera, oceanos e da superfície da Terra [...] e incorporam o ciclo hidrológico e uma representação explícita [...] da vegetação e seus efeitos sobre os fluxos de energia e de água, incluindo as transferências radiativas e turbulentas e os controles físicos e biológicos da evapotranspiração. Observações de satélite mostram que, durante a estação seca, como previsto pela teoria da bomba biótica, a evapotranspiração das florestas continua a ocorrer ou até aumenta, mas não nas áreas desmatadas.


A teoria da bomba biótica veio explicar que a potência que propele os ventos canalizados nos rios aéreos deve ser atribuída à grande floresta, que funciona, então, como coração do ciclo hidrológico. Em outras palavras, em uma relação íntima/mútua com a atmosfera, a floresta doa água e aromas (os BVOCs) para receber chuva.


A expressão metafórica oceano-verde descreve as características oceânicas desta extensão continental coberta por densas florestas. A importância deste conceito novo e incomum reside na sua sugestão de uma superfície florestal, estendida abaixo da atmosfera, cuja características de vastidão, humanidade e trocas pelos ventos se assemelham às dos oceanos reais. Fonte: Nobre, Antonio D. (2014).


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Referências

[1] Crowther, T. W. et alli. (2015). Mapping tree density at a global scale. Nature, 525:201–205. https://doi.org/10.1038/nature14967.


[2] United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division (2019). World Population Prospects 2019: Highlights (ST/ESA/SER.A/423).


[3] Slik, J. W. F. et alli (2015). An estimate of the number of tropical tree species. Proceedings of the National Academy of Sciences, Jun 2015, 112(24):7472-7477. DOI: 10.1073/pnas.1423147112.


[4] Field, C. B. et alli (1998). Primary Production of the Biosphere: Integrating Terrestrial and Oceanic Components. Science 281, 237 (1998). DOI: 10.1126/science.281.5374.237.


[5] Pan, Y. et alli (2011). A Large and Persistent Carbon Sink in the World's Forests. Science, 333, 988 (2011). DOI: 10.1126/science.1201609.


[6] Nobre, Antonio D. (2014). O futuro climático da Amazônia: relatório de avaliação científica / Antonio Donato Nobre. São José dos Campos, SP: ARA: CCST-INPE: INPA, 2014.


[7] Steidinger, B. S.et alli (2019). Climatic controls of decomposition drive the global biogeography of forest-tree symbioses. Nature, 569:404–408 (2019). https://doi.org/10.1038/s41586-019-1128-0.


[8] Aragão, Luiz E. O. C. (2012). The rainforest's water pump. Nature, 489:217–218 (2012). https://doi.org/10.1038/nature11485.


[9] IBGE - O Cidades@ (2019). Sistema agregador de informações do IBGE sobre os municípios e estados do Brasil. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ac/brasileia/panorama. Acessado em: 19 de Setembro de 2019. 

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