A terceira Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis do Desafio Conexsus foi realizada nos dias 21 e 22 de agosto em Porto Velho (RO), na Kanindé Associação de Defesa Etnoambiental, que apoiou o evento e auxiliou também na mobilização das organizações participantes, em especial etnias indígenas.
Estiveram presentes 22 associações e cooperativas que atuam com extrativismo sustentável e agricultura familiar, vindas dos estados de Rondônia, Acre e do sul do Amazonas. Conhecer mais a fundo os negócios e identificar os gargalos e desafios comuns foram propósitos atingidos durante a atividade.
“Não existe receita de bolo e as oficinas são um espaço aberto de debate sobre os caminhos possíveis a serem trilhados” – Carina Pimenta, diretora da Conexsus.
“Queremos apoiar o desenvolvimento das associações e cooperativas em negócios comunitários mais sustentáveis, tanto do ponto de vista econômico quanto da contribuição socioambiental. Não existe receita de bolo e as oficinas são um espaço aberto de debate sobre os caminhos a serem trilhados, de acordo com o contexto e características de cada organização”, sintetiza a diretora de operações da Conexsus, Carina Pimenta.
Para a coordenadora do Desafio Conexsus, Monika Röper, um dos destaques foi a diversidade dos participantes. “Algumas organizações já têm décadas de experiência, outras são mais recentes e a oficina mostrou o quanto elas podem aprender umas com as outras e como a discussão sobre os desafios da sustentabilidade pode promover o crescimento conjunto”, explica.
O integrante da equipe da Conexsus responsável pela oficina em Porto Velho, Junior Fragoso, observa que estiveram presentes organizações que atuam em cadeias extrativistas da castanha, de óleos vegetais e da borracha, na cadeia de pesca artesanal, de manejo florestal sustentável, de agricultura familiar (com produtos como banana, mandioca e farinhas) e que atuam com artesanato. “Foi muito enriquecedor no sentido de integrar as organizações, possibilitou que interagissem dentro de uma ótica de rede, que é um dos objetivos da Conexsus, em uma lógica de promoção dos negócios no Brasil inteiro. Os participantes se mostraram dispostos e animados para continuar essa relação”, completa.
Conhecendo os desafios
A busca de caminhos para que os recursos financeiros de diferentes naturezas possam chegar às organizações, de acordo com o perfil e as necessidades de cada uma, é um ponto de destaque. “O que complica muitas vezes é a burocracia. Precisamos de capital de giro e de conexões que nos levem a entidades que possibilitem acesso, isso vai nos ajudar a crescer e foi justamente essa reflexão que a Conexsus trouxe para nós com a oficina”, diz José Antônio da Conceição Camilo, integrante da Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar). A Cooperativa atua com o processamento do cacau nativo e com a extração de óleos. Busca organizar-se tanto na produção do fruto, quanto na certificação e comercialização, para alcançar mercados internacionais no futuro.
“Precisamos de capital de giro e de conexões que nos levem a entidades que possibilitem acesso, isso vai nos ajudar a crescer e foi justamente essa reflexão que a Conexsus trouxe para nós com a oficina” – José Camilo, da COOPERAR.
A Cooperativa de Produtores de Polpa de Frutas Nativas do Município de Mâncio Lima (Coopfrutos) também trabalha com extração e fabricação de óleos vegetais, como os de buriti, açaí e patoá. A partir deles, são produzidos sabonetes vegetais, sabão líquido, em barra e repelentes contra mosquitos. Os produtos são inspecionados e comercializados nos mercados estadual e nacional.
De acordo com a presidente da cooperativa, Elines Ferreira de Araújo, conhecer empreendimentos semelhantes na mesma região é essencial para alcançar mercados maiores, como o mercado internacional, que chega ao Norte com demandas em grande escala, mas raramente encontra um negócio que, sozinho, consiga supri-las. “Foi muito bom saber quem são as organizações ao nosso redor. Nos unir e fazer parcerias vai facilitar bastante para conseguir o que o mercado quer da gente”, explica.
Elines também destaca o autoconhecimento gerado pela experiência, que vem com a análise dos próprios desafios e a percepção do estágio de desenvolvimento da cooperativa, além da importância de observar situações pelas quais os outros negócios passaram e o compartilhamento de experiências entre eles. “Estamos passando pelo processo de certificação, conversar com organizações que já passaram por isso foi muito bom”, complementa.
Parcerias essenciais
Com a proposta de se desenvolver em rede e de fomentar um ecossistema de negócios sustentáveis, o Desafio Conexsus conta com um processo de cocriação que se torna mais evidente durante as oficinas. “Ao partilharem com os participantes seus conhecimentos e suas redes institucionais, os parceiros do Desafio estão trazendo contribuições fundamentais. Além disso, os resultados que tivermos no mapeamento só foram possíveis, em um curtíssimo período de tempo, devido a essas parcerias”, destaca a diretora da Conexsus.
No caso deste evento, participaram das atividades, bem como da mobilização dos participantes, organizações que atuam na Amazônia, em contato principalmente com as cadeias da sociobiodiversidade. O Pacto das Águas foi um dos parceiros cocriadores participantes. O coordenador de articulação interinstitucional da organização, Plácido Costa, avalia que a oficina é um momento de abertura de horizontes para as cooperativas e associações. “É importante que eles vejam que negócios parecidos com o deles, de base comunitária, estão conseguindo acessar mercados e fazer avanços, serve como incentivo propiciar essas conexões.”
O Pacto das Águas atua na construção de alternativas de geração de renda mais sustentáveis e na gestão ambiental em Terras Indígenas e Reservas Extrativistas. Tem como principal estratégia a estruturação das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, em especial cadeias estruturantes, como a da castanha. Durante a oficina, Plácido apresentou informações sobre os arranjos produtivos o estimulou os participantes a pensarem em novas possibilidades de acesso a recursos, por meio de mecanismos diferenciados.
Um exemplo é o da Associação Zavidjaj Djiguhr (Assiza), da etnia indígena Gavião, que atua principalmente na cadeia da castanha e, a partir dela, vem estruturando outras cadeias, como a da banana e da farinha. “Cerca de 500 de seus 750 membros fazem a coleta da castanha e vendem hoje a uma empresa. Eles percebem que precisam agora se envolver mais com os elos da cadeia e em arranjos que os favoreçam mais, como atuar em parceria com cooperativas”, explica Fragoso.
O coordenador de projetos da SOS Amazônia, Adair Duarte, também participou da oficina. A instituição é parceira cocriadora do Desafio Conexsus e tem como missão promover a conservação da biodiversidade e o crescimento da consciência ambiental na Amazônia, com atuação no Acre e no Amazonas. Adair destaca as metodologias utilizadas, que facilitam a compreensão dos conteúdos por todos os participantes.
“A soma de esforços poderá minimizar os gargalos e dificuldades dessas organizações. Por isso a busca da evolução dos negócios e de caminhos durante a oficina foi muito importante”, comenta. Adair avalia como principal desafio a estruturação de capital de giro para fortalecer o acesso a mercados, a fim de manter um fluxo mais constante nos negócios. O parceiro também falou durante a oficina um pouco sobre as cadeias de produtos com as quais atua, de cacau, borracha e óleos.