No Acre, inclusive dentro de Unidades de Conservação, a realização de queimadas é uma prática convencional da agricultura familiar, empregada na limpeza do terreno para renovação dos plantios. Diante dos sucessivos impactos ambientais e dos desastres provocados pelo uso do fogo, o minicurso pretende capacitar pessoas que possam atuar diretamente nas comunidades, por meio do repasse de conhecimentos e ferramentas de mitigação dos efeitos negativos de queimadas e incêndios.
Com transmissão ao vivo através da plataforma Google Meet, o conteúdo foi ministrado por técnicos da SOS Amazônia e especialistas do Projeto MAP-Fire, em parceria com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Universidade Federal do Acre (Ufac). Para reverter o cenário atual, os palestrantes apostam no investimento em conhecimento, tecnologia e ferramentas capazes de monitorar focos de calor.
A Plataforma de Gestão do Risco e de Impactos de Queimadas e Incêndios Florestais (Plataforma MAP-Fire), possibilita a cientistas e pesquisadores brasileiros, peruanos e bolivianos o monitoramento e análises de dados das queimadas e incêndios florestais na região da tríplice fronteira da Amazônia sul-ocidental. A área monitorada engloba a região de Madre de Dios (Peru), o estado Acre (Brasil) e o departamento de Pando (Bolívia), regiões representadas pela sigla “MAP”, que dá nome à plataforma (saiba mais seu funcionamento).

Ao término do minicurso, os participantes puderam construir e avaliar um plano de ação no combate ao fogo, por níveis de alerta e escala de tomada de decisão. O brigadista Anderson Lisboa avalia que o risco de fogo compreende um conjunto de fatores que propiciam o avanço de queimadas e incêndios, como clima seco, redução da vegetação e degradação do solo. “A construção de um plano de ação aliada às atividades de educação ambiental, como palestras e campanhas midiáticas, são fundamentais”, considera o brigadista.
A estudante do Instituto Federal do Acre (Ifac), Dângela Maria, também ressalta a importância das atividades de conscientização e sensibilização das comunidades para prevenção do fogo, incluindo crianças e jovens. “É preciso pensar conteúdos para os diferentes públicos, desde os mais jovens. Com as crianças, podemos trabalhar, por exemplo, na forma de desenhos ou peças teatrais”, sugere a estudante.
Wendeson Castro, técnico da SOS Amazônia e organizador do minicurso, destaca o caráter heterogêneo do grupo, com expressiva participação de mulheres e troca de experiências. “Conseguimos desenvolver as atividades com um grupo diverso, dedicado e disposto. No futuro, podemos ampliar a abrangência do conteúdo às comunidades remotas por meio de novas capacitações da plataforma MAP-Fire”, conta.
Impactos ambientais
Durante o encontro, Wendeson Castro falou sobre os impactos provocados pela humanidade nos últimos 70 anos, no período denominado Antropoceno (a era dos humanos). De acordo com Castro, esse período é marcado por grandes transformações socioculturais, que provocam intensos impactos ambientais no planeta, como desertificação, déficit hídrico, poluição do ar, mudanças climáticas, etc.
Com base em evidências científicas, a pesquisadora Liana Anderson analisa que, nos últimos 40 anos, a Amazônia sofreu um aumento de temperatura maior que a média global e, no estado do Acre, observou-se uma diminuição das chuvas em até 20% durante os meses de agosto a outubro. Além disso, as grandes secas do último século aumentaram o número de árvores mortas na floresta. “Estes três fatores associados (clima mais quente, menos chuva e mais madeira morta ou material combustível nas florestas) aumentaram a susceptibilidade destas florestas a incêndios, como também fizeram com que as características do fogo sejam diferentes do que no passado”, explica a pesquisadora.
Parceria
Álisson Maranho, secretário técnico da SOS Amazônia, explica que o minicurso pode ser visto como um desdobramento do Projeto Brigadas Amazônia, voltado à atuação direta no combate a incêndios e resgate de fauna. “Em 2019, tivemos uma explosão de desmatamento e queimada, de forma impactante em todo o estado do Acre e, em particular, nos municípios de Feijó, Tarauacá e Marechal Thaumaturgo. Diante da necessidade, fizemos um trabalho conjunto para controle das queimadas, em parceria com WWF, Corpo de Bombeiros e Pelotão Ambiental”, diz Maranho.
No âmbito do Projeto MAP-Fire, o minicurso compõe o eixo de atuação relacionado à educação ambiental. “Percebemos que a parceria com a SOS Amazônia seria interessante para complementar as ações de monitoramento aliado à conservação ambiental e fortalecer o combate e enfrentamento do fogo”, conta Yara de Paula, ecóloga e pesquisadora assistente, responsável pelo eixo de educação ambiental.
O Projeto MAP-Fire foi implementado em 2019 com suporte do Inter-American Institute for Global Change Research (IAI), em parceria com o Climate Science for Service Partnership Brazil (CSSP-Brazil), e passa por um processo de aperfeiçoamento e expansão relacionado à gestão de risco em áreas protegidas para atender toda a América do Sul.
