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Assistência técnica garante efetividade das ações do Projeto Nossabio

Texto: Bleno Caleb

O trabalho de assistência técnica e extensão rural e florestal (Aterf) é um dos pilares do Projeto Nossabio, porque orienta o desenvolvimento das atividades de campo a fim de garantir o alcance de objetivos econômicos e ambientais. A base deste trabalho está no repasse de informações técnicas aos produtores e extrativistas, o que proporciona um espaço de compartilhamento e troca de saberes que potencializa a produção dos territórios.

Wenderson Silva, técnico em Agroecologia, e Sidomar Falcão, técnico em Agrofloresta, estão em contato imediato com as famílias, dentro das Unidades de Conservação. O trabalho de Aterf desempenhado por eles pode ser considerado o elo entre o território e as instituições responsáveis pela condução do projeto, dentre elas, a SOS Amazônia e o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).

A assistência técnica tem início com a identificação das famílias que serão contempladas com as atividades do projeto. Nessa etapa, são realizadas visitas de campo às comunidades para mobilização das famílias e aplicação de questionário socioeconômico, a partir do qual é possível descobrir as limitações e as potencialidades de cada território, o que irá refletir no plano de ação a ser seguido.

Aplicação de questionário socioeconômico com famílias da Resex Cazumbá-Iracema (Foto: SOS Amazônia)

No âmbito do Projeto Nossabio, a equipe de campo oferece assistência a diferentes cadeias de valor com base em produtos da sociobiodiversidade, como açaí, borracha e cacau. Os técnicos da SOS Amazônia já possuíam experiência com o beneficiamento de borracha CVP (Cernambi Virgem Prensado) e agora precisam aprimorar os conhecimentos para a implantação da cadeia de valor do açaí, uma novidade na Reserva Extrativista Chico Mendes, nos seringais Porvir e Porongaba.

“Durante todo o período de execução do projeto, vamos oferecer assistência às famílias. Depois das reuniões iniciais, entregamos os kits de escalada no açaizeiro e, posteriormente, vamos fazendo o trabalho de acompanhamento, verificando se existe alguma dificuldade ou dúvida no uso do material. Esse é o trabalho de Aterf que nós fazemos”, explica Wenderson Silva, assistente técnico do Projeto Nossabio.

Cada cadeia de valor possui orientações específicas, que variam conforme o cultivo, mas o mecanismo de trabalho dos técnicos é basicamente o mesmo, no sentido de orientar as famílias e incentivar a adoção de boas práticas para o aumento da produção. “Os produtores trabalham de uma forma e nós temos pequenos detalhes que facilitam o trabalho deles. Nós não vamos ensinar o produtor a trabalhar, vamos passar pequenas dicas que vão melhorar seu trabalho”, considera Wenderson.

Equipe do Projeto Nossabio em deslocamento no município de Sena Madureira, interior do Acre (Foto: SOS Amazônia)

Benefícios econômicos e ambientais
O Projeto Nossabio contempla 315 famílias em cinco Unidades de Conservação (UCs): Resex Chico Mendes, Resex do Cazumbá-Iracema, Floresta Nacional de São Francisco, Florestal Nacional do Macauã (no Acre) e Parque Estadual de Guajará-Mirim (em Rondônia). Para Wenderson Silva, além do conhecimento técnico, é necessário estabelecer uma relação de confiança com as famílias, já que o trabalho de Aterf é consolidado na prática, na convivência e na troca de saberes e experiências. “Precisamos caminhar de mãos dadas”, diz.

Sidomar Falcão ressalta que o serviço de Aterf, além da extensão rural, abrange ainda o aspecto florestal, isto é, possibilita o aumento da produção, com maior retorno financeiro para as famílias, e a conservação das áreas protegidas. “Nosso trabalho também é focado na questão da conscientização e do cuidado com a floresta. O projeto visa não somente a questão financeira do beneficiário, como também a redução da pressão sobre a floresta”, avalia Sidomar Falcão.

Os técnicos concordam que a articulação entre os diversos setores do projeto é um trunfo para o alcance dos objetivos econômicos e ambientais. “As equipes de campo, do administrativo e da comunicação formam uma corrente e precisam estar alinhadas. Nós levamos os benefícios para os produtores e trazemos os resultados para o escritório”, conta Wenderson.

Visitas de campo seguem protocolos de prevenção do coronavírus (Foto: SOS Amazônia)

Desafios
O deslocamento para as comunidades do interior representa uma imersão em uma realidade própria de cada lugar, cada qual com seu nível de dificuldade. Em determinadas Unidades de Conservação, é preciso caminhar a pé por até seis horas para chegar na colocação de um produtor. Em outras, o deslocamento é feito de canoa ou de quadriciclo. “Faça sol ou faça chuva, sempre é uma experiência nova”, afirma Wenderson.

Sidomar Falcão relembra um episódio em que a equipe do Nossabio precisou construir uma ponte improvisada com corda e troncos de árvores, coletados no chão da floresta, para atravessar de quadriciclo sobre um igarapé que havia transbordado e levado consigo a ponte original. Em razão das dificuldades, Sidomar considera que o trabalho de Aterf não é para qualquer profissional.

“As dificuldades existem, mas é gratificante verificar que o nosso trabalho está surtindo algum resultado”, complementa Wenderson. Como exemplo, o técnico cita uma comunidade da Flona Macauã, onde a produção de borracha era inexpressiva e, com a estruturação da cadeia de valor, saltou para cinco toneladas por ano. “Um resultado como esse é satisfatório para a SOS Amazônia, parceiros e, principalmente, para a própria comunidade”, diz.

Mãos à obra: equipe de campo constrói ponte sobre igarapé para atravessar de quadriciclo (Foto: SOS Amazônia)

Projeto Nossabio
O Projeto Nossabio foi aprovado em dezembro de 2019, por meio do Legado Integrado da Região Amazônica (Lira), programa brasileiro de conservação idealizado pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), com recursos do Fundo Amazônia e da Fundação Gordon e Betty Moore.

O programa foi concebido para aumentar a efetividade de gestão das áreas protegidas da Amazônia, como Unidades de Conservação e Terras Indígenas, bem como estruturar cadeias de valor a partir de produtos da sociobiodiversidade.

A SOS Amazônia é responsável pela gestão operacional do projeto em estreita ligação com organizações sociais, cooperativas e associações extrativistas de cada uma das unidades.

Entardecer na Resex Chico Mendes, município de Assis Brasil (Foto: SOS Amazônia)
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