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Saúde dos socorristas: métodos, práticas e prevenção no resgate da fauna em atividades de fogo

Khelven Castro

A oficina de quinta-feira, 25, teve como foco duas temáticas: experiência, cuidados e procedimentos veterinários com a fauna afetada pela atividade de fogo, como também, zoonoses e saúde pública, pesquisa, experiências e cuidados no contato com animais afetados pelo fogo.

Cláudio Andrade, médico veterinário  pela prefeitura de Rio Branco, conta um pouco sobre métodos e práticas no resgate de animais silvestres em atividade de fogo. Ele ressalta que é preciso tomar cuidado ao lidar com bichos em fuga, tanto para proteção do animal, quanto para o socorrista. É importante não os alimentar na hora do resgate e evitar sempre de molhar o animal, pois assim dificulta o processo de cuidados.

“É comum animais em fuga irem parar em vias públicas e acabam sofrendo acidentes ou maus tratos por pessoas que os encontram considerando-os como perigosos. Assim, alguns deles acabam sendo resgatados fora de locais de atividade do fogo, o que soma mais ainda seus ferimentos”, ressalta Andrade.

Os problemas mais comuns encontrados nesses animais em resgate são: ferimentos, queimaduras e fraturas. Vale ressaltar que há também o risco de intoxicação que prejudica o sistema respiratório dos bichos, pois acabam inalado fumaça na hora de fugir.

Zoonoses e saúde do socorrista   

A zoonose é uma doença ou infecção transmissível entre animais vertebrados e seres humanos. De acordo com a OMS, existem mais de 200 doenças transmissíveis que se encaixam a definição de zoonoses.

É importante frisar que os animais silvestres podem carregar os agentes etiológicos de diversas doenças, sem apresentar quaisquer sinais, aparentemente um animal sadio sem nenhuma indicação visível de adoecimento.

Eder F. de Arruda, médico veterinário, especialista em saúde pública e doutorando em ciência animal, conta que é preciso ter cuidado no resgate desses animais pois eles podem transmitir doenças. “Tendo em vista que quem trabalha diretamente com o resgate da fauna, observar o animal aparentemente rígido e sadio, faz com que não os considerem como um risco. Vê que o animal só tem apenas queimaduras e desconsidera que ele tem uma doença, isso pode levar ao socorrista a não tomar os cuidados necessários no momento de manejar e conter esse animal”.

O especialista ressalta também que os animais silvestres são considerados como reservatório primário para o vírus da raiva na maior parte do mundo. A pessoa pode contrair essa doença por meio do contato como secreções do animal contaminado, lambedura, mordedura, arranhões. Vale frisar que a taxa de letalidade da raiva é de aproximadamente 100%.
Apesar de não ouvirmos falar muito de casos de raiva humana, ainda é um problema persistente. O vírus tem uma evolução muito rápida, matando em algumas horas se não houver socorro adequado.

Outras doenças zoonoses são: leishmaniose, transmitida por meio da picada do “mosquito palha”, febre amarela, onde é importante saber que ela não é uma doença transmitida por primatas e sim pela picada do mosquito “Aedes aegypti”. Vale ressaltar que há vacinação para febre amarela. 

Cuidados no pré-resgate

Para profissionais que trabalham diretamente com os animais, é preciso vacinação, a profilaxia pré-exposição. O protocolo de imunização é elaborado por um médico veterinário, podendo fazer a prescrição da vacina. Em seguida, é preciso procurar uma unidade básica de saúde e fazer a vacinação prévia.

Para o esquema de vacinação, são três doses, no dia zero o primeiro dia, sete dias após a primeira dose e 28 dias depois da segunda dose. Os riscos de contrair a raiva para quem toma a vacina são menores e caso a pessoa vacinada contraia a doença, os efeitos colaterais do vírus diminuem podendo auxiliar no tratamento do indivíduo.

É importante o uso dos Equipamentos de Proteção Individual – EPIs, tais como, luvas, máscaras, capacetes, botas e roupas adequadas para que resguardem o contato físico do homem com o animal silvestre no momento do resgate.

A manutenção do sistema vacinal é de extrema importância, deve estar atualizada para tentar evitar ao máximo a contaminação da equipe. A higienização pessoal, tanto da pessoa quanto dos seus materiais e aparelhos de resgate, é fundamental, pois o contágio das zoonoses também pode ocorrer de forma indireta.

O terceiro dia de oficina ocorre na terça-feira, dia 30 e a programação você confere clicando aqui
Para saber o que aconteceu no primeiro dia, cliquei aqui.

Sobre a Oficina de Fauna

Realizada pela SOS Amazônia em parceria com o WWF – Brasil, a iniciativa tem por objetivo construir mecanismos e aperfeiçoar processos relacionados com os cuidados e procedimentos de resgate da fauna, bem como sobre a redução do impacto negativo do fogo sobre a fauna silvestre.

Colaboradores

Com a colaboração de diversas instituições (SEMA-AC, UFAC, Corpo de Bombeiros – Ac, Batalhão de Policiamento Ambiental – Ac, IBAMA – CETAS, ICMBio, Ministério Público do Estado do Acre - CAOP-MAPHU e o Instituto Federal do Acre – IFAC), será criado um roteiro metodológico para que sirva como base para o trabalho de instituições/organizações governamentais e da sociedade civil.