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SOS Amazônia promove debate sobre igualdade racial

Roda de conversa contou a participação de Jayce Brasil, socióloga e educadora popular. As informações irão subsidiar a elaboração de política interna voltada à igualdade racial. Texto: Bleno Caleb

Entre a equipe da SOS Amazônia, sete pessoas se autodeclaram brancas, uma amarela, quatro pretas e onze pardas. O formulário foi aplicado pela socióloga e educadora popular Jayce Brasil, como atividade preparatória para a roda de conversa intitulada “Promoção de Políticas para a Igualdade Racial no Ambiente de Trabalho”, realizada nesta terça-feira, 21 de setembro. A proposta do encontro é estimular um olhar inquietante, investigativo e questionador acerca da estrutura racista que permeia as relações humanas.

Jayce esclareceu que a população negra é o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, ou que adotam autodefinição análoga, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse sentido, entre a equipe da SOS Amazônia, 15 pessoas representam a população negra. Para muitos participantes, principalmente entre aqueles que se autodeclararam pardos, foi uma novidade descobrir-se negro. “Parece que fui enganado a vida inteira. Nunca me disseram que eu me encaixava entre a população negra”, desabafa Wenderson Silva, técnico em Agroecologia.


Em 2013 e 2014, Jayce coordenou a campanha “Rio Branco sem Racismo”, junto à Secretaria Adjunta de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seadpir). Durante as atividades de formação da campanha, ao perguntar como crianças, jovens e adultos se autodeclaravam em relação à cor de pele, Jayce ficou surpresa com as respostas que obteve. “Sempre quando eu perguntava: qual é sua cor? As pessoas diziam: sarará, tição, da cor do pecado, encardida, cor de empregada, cor de canela, carvão, chocolate, café com leite e por aí vai... Conseguimos identificar 35 definições análogas em Rio Branco. No Brasil, existem mais de cem”, diz.  

Para Jayce, o uso dessas definições evidencia a dificuldade que as pessoas têm em assumir a própria negritude, fruto da herança escravocrata colonizadora. O silenciamento das verdadeiras histórias de vida, o esquecimento e a não compreensão das raízes socais do país constituem barreiras em forma de rejeição, racismo e discriminação. Assim, deixamos de compreender as razões da desigualdade, do preconceito e da violência, consequências da diáspora africana, isto é, do deslocamento forçado de africanos para o Brasil na condição de escravos.

Desse modo, passamos a viver em uma sociedade racista, em que predomina a superioridade moral, intelectual e estética dos brancos. A chamada branquitude reafirma o poder econômico, político e de produção de subjetividade das pessoas brancas, estabelecendo um padrão de humanidade que coloca à margem da sociedade aqueles que não se encaixam nesse padrão. “A alienação colonial nos faz pensar que existe uma raça suprema, uma cor absoluta e que o patriarcado é o melhor modelo de estruturação da sociedade. Capitalismo e racismo são irmãos gêmeos”, avalia Jayce.


Como resultado desse sistema, dados do Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revelam que os negros representaram 77% das vítimas de homicídios no Brasil, com uma taxa de 29,2 homicídios por 100 mil habitantes, em 2019. Em comparação com a população não negra, a taxa caiu para 11,2 para cada 100 mil habitantes. Isso quer dizer que a chance de uma pessoa negra ser assassinada é 2,6 vezes maior do que uma pessoa branca. "Por isso que bater no peito e se autodeclarar preto é um ato político grandioso. Tem que ter coragem, viu? ", exalta Jayce.

Além da violência explícita, o preconceito racial se manifesta de maneiras veladas, como o racismo institucional. Pessoas negras ocupam menos espaço nos lugares de poder e, em média, ganham 30% a menos que pessoas brancas, inclusive com o mesmo nível de formação e no mesmo cargo. Jayce ressalta a importância de políticas afirmativas para reverter esse quadro. Como exemplo, ela destaca o sistema de cotas nas universidades, que democratizou o acesso de jovens negros e de baixa renda ao ensino superior.

Durante o encontro, Jayce recordou ainda uma frase que ouviu da escritora, filósofa e feminista Djamilla Ribeiro, em sua primeira visita a Rio Branco: o que você alimenta que fortalece o que você condena? E essa frase ficou de reflexão para toda a equipe.



2021-09-22 17:34 Notícia